sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Cartas....

 [Da série Cartas:]

Quando esboçava uma despedida, os olhos marejaram. Quando mais uma vez tive de cortar o cordão umbilical entre ti e tua mãe.  Eu não saberia quem ia viver. Não tive e nem tenho este direito.  Era um dever apenas fazê-lo senão ambos poderiam ainda estar em apuros. Os dois quase morreram. A mãe sangrava em demasia e tu arroxeava por outra via..  Não poderia correr o risco de perder os dois, assim. Não pude chorar. Na verdade, na hora em que tu sangrava já a mãe cansada tive de correr. Vai já sabendo desde nascer que a vida no máximo coloca várias possibilidades e às vezes não dá inúmeras opções; somente duas. Tu escolhes. Nasceu! E agora vivo escolhes tb. Mas o que querias dizer é que chorei depois. Quando esbocava uma despedida. Fiquei feliz de os dois sairem vivos desta. Remascimento eu chamo a isto. Você e tua mãe.  A tesoura parecia cega a mastigar as coisas. Como uma boca viva e faminta a vida. Mas é só o que parece.  Na hora do corte sempre é afiada a lâmina que separa. Que abre espaço.  Que coatura outraa texturas e tessituras de vida. Mas separa ajuntando ,percebe? Não, não penses que é abandono ou coisa parecida que não é.  Sei que não adianta te dizer isto porque o que tu sentes é o que o conta.  Na verdade, me vou para que todos possam expandir. Inclusive tu, e por isto mesmo estive todo tempo contigo. Ate o máximo que pude. Agora chegou a hora. Entendo que o que sentes é de tal modo angustiante que te lembras da mãe ausente de tanto que trabalhava para poder sustentar tu é teus irmãos.  Antes e depois que tu nasceste. Mas pense que eu... Eu em meu caminho de seguir não fui menos só que tu. E ainda sigo no ermo longo e longe do horizonte.  Sumindo fininho na estrada tal qual estrangeira. Estrangeira esperança incompreensível... sigo, pois.

Da série: cartas

Alessandra Espínola

Chega a manhã..

 Chega a manhã de dezembro. O sol entra e se deita em cheio no quartinho. A gata dorme ao lado e ronca. A manhã é suave. Os passarinhos arrulham nas árvores em nota ré. O galo continua contando. Enquanto a do luz Sol vai tomando outros espaços no morro. O silêncio me expande. O marulhar das águas do leito da cachoeira coadunam com o piar dos pássaros. Todas as razões são desnecessárias  quando a alegria doce e suave tomam a direção da vida. 

Alessandra Espínola 

(Das minudências)

Rio de Janeiro, dezembro de 2021.

Doa textos não revisados

 Dos textos não revisados (como tem sido)

Enquanto lavo a louça.


Estou indo de volta pra casa. Mais merecimento que se tenha de nada adianta. E não me prende. E tá tudo bem. Por que ainda somos mais que isso que temos direito e merecimento. O valor de uma pessoa não se restringe ao merecimento. Um ser está ainda mais amplificado e além que uma ou outra coisa. Porque o valor de um ser é tão alto que não tem coisa ou cifrão que pague. Embora sejam coisas trivias(ou essenciais- basilares) das coisas se necessita pera se viver enquanto corpo é ser no tempo e no espaço e em sociedade. O Rio de Janeiro   embora seja uma cidade que eu ame com as entranhas está sempre em movimento de regurgitação,  me parindo de tempos em tempos. Uma cidade fantasma.  Agradeço a este ventre que me deu a capacidade e habilidades de lidar com o caos e a instabilidade. O ventre e a seiva.  O caminho para outras paragens, litorais, e ao estrangeiro.  A criatividade a todo vapor. Como força motriz. Todas as ferramentas dispostas. A bancada toda para mim herdada por anos de cuida do serviço e trabalho diário intenso e externo. Contínuo constructo da vida.  A grande diferença é que as uso com ética empatia compaixão responsabilidade e prudência  que é coisa de dar em doido. Não brinco. Deu-me a chance de errar continuamente em busca de novas soluções e descobertas com feitios de liberdade cuja maioria se ofende e se incomoda os modos novos de olhar e entender e novas perspectivas e pontos de vistas se torna incompreensível. Liberdade não tem fronteiras Tanto que , por exemplo, qualquer pedaço de chão de raiz de tronco de rio de ar de voo de fronteira me sinto como se eu mesma fosse a coisa também tudo isto.  É como ser a roda que se move e move o carro  no chão e o chão e o vento e o motor e as pedras que voam na tração.  Sim ser tudo e o todo.  O mundo vê uma pessoa como algo, como um rótulo, como um nome de profissão cargo idade sobrenome número e entendemos ser tudo isto e mais infinitamente mais. Olhar além do que se possa parecer requer ao menos despojamento de si mesmo. Um despir-se. Continuo de  peles veus cascos e mascaras. E é preciso coragem para estar diante do outro. Aquele que nos diz tanto sobre nos mesmos. 

Em direção ao Sol nascente.

Dos textos de " enquanto lavo a louça " 

Rio de Janeiro, primavera de 2020.

Alessandra Espínola

Texto não revisado

 Texto ainda não revisado  (como tem sido)

Do porque as coisas (além de tantas variantes) demoram a se resolver.  Primeiro porque não há perguntas e respostas. Reflexões que saiam do comum estado de se fazer as coisas imitando apenas os modelos ditos de poder.  Mas porque há mandos. Há uma dificuldade em se entender que ninguém manda em ninguém.  Que nada e ninguém controla ninguém e nada. Verbos à força ou jeitos ja tao claros de uso da força  (geralmente estúpida) e fazer com que o resultado seja exatmente o oposto.  Querer mandar ou forçar de qualquer modo que seja que alguém é uma agressão. Isando a força que fique , faça, seja , coma, compre  ou qualquer tipo de linguagem tipicamente incipiente descria, destrói e afasta. E, por isto mesmo a demora em resolver coisas , demonstrando autoritário aprisionamento  e total falta de abertura à escuta e dialógica. Diálogo criativo trazendo respostas mais favoráveis à todos os lados. Apenas tenho observado- de novo - a reprodução de falas e ações em que se parecem  papagaios e hienas que não falo aqui os motivos. Mas tudo tem seu destino e benefício no mundo. Dependendo do que se faz diante destes. Aquele que geralmente deseja se impor já se coloca em tropeço de si mesmo. Afundando seu barco.. Por si só sai de cena ou apaga os refletores para si. Ou se coloca em desespero, no mínimo.  A tentativa de se salvar qdo na verdade se afoga ainda mais.

E convida o caos negativo a se instalar.  As coisas e pessoas não são impostas. E poder esta muito longe do qie se pensa ser. Que dirá usá-lo.  Cada um se põe do jeito e da forma como quiser, como consegue de acordo consigo mesmo, com seu ser que apenas flui. No entanto, pouco se tem a consciência de que os resultados se iluminam por si. Cada um come o prato que prepara. E tá tudo bem nisto. Porque de vê em quando observo o banquete diante de mim e existe então está diferença imensa ,  esta multiplicidade infinita de iguarias, seres, gostos, talheres , toalhas, pessoas a mesa. Tudo! Oferecer é, servir no sentido de dar ao outro em colaboração o que se tem e uma generosidade construtora  que deixa o encontro mais democrático livre e produtivo... e, portanto, próspero para todos de todos os lados da mesa. Quadrada retangular redonda ou mesmo na grama num piquenique ou a bordo de um avião ou no navio cruzando o Atlântico, porém ainda há os que obrigam outros a comerem os pratos que prepararam. Sem que eles mesmos não comem. Daí a ambientação seja  ela qual for muda completamente.  É preciso ter um tantinho de delicadeza, educação e olhar colaborativo e não autoritário. Só recebe sim quem respeita o não. E rudo muda o tempo de acordo como se manobra nas ondas. Os ventos tb mudam e o não pode se transformar em sim de acordo com o surfar.  De acordo com a lucidez de fazer  alguma viagem em vôo cego. Pode o delírio ocorrer em qualquer um que esta em vôo. É preciso rever os códigos para saber se continia enxergando a realidade. Afim de que não haja nem acidente comprometendo a própria vida e a vida dos demais. Voltando ao banquete....E, como eu que não quero comer um prato acabo servindo ao outro o que eu mesmo não quero e por vezes me faz mal ou abomino.  

As vezes querem dar pedras de cimento a um ourives. Estou lavando a louça.  Sob um Sol que arde no peito, amoroso, e brilhante, alegre e desejoso e tem assim uma força de vontade incalculável. E não precisa expor nada e ninguém.  Olho e vejo que nitidamente alguns momentos podem ser feitos no acolhimento dos pensamentos distintos do nosso. A conversa prolongada nas refeições podem sempre mudar. A louça usada e as escolhas - que aliás estão sempre em mudanças - não precisam ser expostas como algo negativo causando algum tipo de constrangimento a quem quer que seja. Humilhação e constrangimento ao outro tem suas consequências. É preciso bom senso e uma postura de se perguntar se "eu gostaria que fizesse , agissem ou falassem assim comigo". Uns comem com a mão outros numa etiqueta impecável baseada nos modos europeus. Outros ainda comem no sofá outros com colher. E tá tudo lindo. Compartilhar não é aproveitar para tolir, usar formas de silenciosamento através de chantagens,  mandos ou qualquer outros tipos de autoritarismo disfarçados ou com bases no desrespeito, deboche,  hostilidade, achincalhamento mínimo que seja. Seja pessoalmente ou como temos visto ate atraves das tecnológicas. Onde somente um fala e os outros como bezerros são obedientes serviçais repetindo a mesma etica nublada, fala, tom e ate palavras e gestos. Bom humor e o cômico nada tem a ver com isto. Ainda engatinhamos nas mais diversas relações desde que temos conosco mesmos, com a natureza, nas amorosas, nas sexuais, trabalhistas; nas empresas, nas instituições, na família, nos grupos,  enfim! Cada um é belamente livre tb para escolher não estar entre os que assim agem e portanto fazer escolhas melhores. As que realmente tem mais significado, sentido para  cada e que possam expandir e continuar o processo de seguir em frente cada qual na sua jornada. E no seu tempo. O fato de não se compactuar com ações que possam ser limitantes comodas ou confortáveis sempre há de levar nos além. Isto tem muito a ver tb com como eu me sinto e olho a mim e ao mundo. Se entender como sendo o todo revela como temos capacidade melhor de lidar com tudo. Se exponho o outro no que ele é livre seremos expostos no que somos preso. Aquele que já não se prende entende que é o todo.  E por isto, liberta também o outro.  O todo. 

Sim. Por vezes temos dificuldade de fazer o que fizemos ou pregamos. Faz parte e está tudo bem.  A gente continua corrigindo. Acertando a rota. E alçando vôos nos quais somente cada aeronave ou ave se esforçou diante da carta de navegação de cada um. 

Façamos boa esta viagem!

Textos aéreos: do vôo estável a turbulências.  Reflexões de quando lavando louça. 

Alessandra Espínola 

Rio de Janeiro, primavera de 2021.

Lavar a louça...

 Lavar a louça deixada em cima da pia na noite anterior, depois de ter feito a janta, uma jantinha leve como a partir de uma certa idade deve ser. Ouvindo música no radinho que ganhei com tal surpresa do vizinho do andar de cima. Tocavam músicas que me convidavam a uma dança também leve como se cozinhar fosse assim o movimento das mãos em termos de roda, ballet. Minha gata de estimação miava assim cantando e tocando em rodilhas poéticas  minhas pernas entrando portanto na roda. Era tudo muito bonito, simplicidade da minha própria  nudez. Enquanto eu fazia tudo isso acontecer tive o vislumbre de meu futuro.  Assim, cheio de beleza e paz. Embora o caos, embora as perdas, embora a lágrima e a dor. E embora a louça, posteriormente, deixada sobre a pia.Tudo era feito e refeito no cuidado amoroso com a Vida . 

Alessandra Espínola 

Rio, primavera de 2021.

Filha do fogo..

 Fragmentos:


Filha do fogo e da água.  Corpo de  barro , chuva, pedra, magma. Água pura..sangue vivo de uma terra que se ajuntou de verde vermelho branco azul amarelo brasão. Açafrão. Turquesa azul - delicadeza dos  mares nos  azulejos. O lustre. A taça.  As xícaras. Os pratinhos de pira louça porcelana desenhados à mão. Nossa senhora acesa dourada preta azulada no alpendre, iluminando o batente onde dormi toda uma vida. Dormia nos braços alvoroçados das ondas e das chuvas espumosas e intermináveis. Amanhecia como em sonho na casa de barro moldando ainda na mãos desta terra viva noventa e silenciosa como o tabaco de meu pai.  A fumaça do fogareiro, do fumo, do fogo de monturo enchendo as manhãs, o quintal , a casa, era toda eu névoa. Era toda eu casa. Quintal. E chão. Era fogo! Sob os olhos do pai-vô. Os tamancos de madeira sarandavam no chão de taco tb de madeira escurecida  brilhante e batiam como quem bate a porta das manhãs convocando a menina ao café e ao trabalho. A descoberta e_laboração de si, do mundo, da vida . Mal dava tempo de vestir, ia do jeito que estava, assim mesmo debaixo das cobertas, mas me dava sob a luz do dia descoberta. E inteira. Corria lentamente a enrodilhar os cabelos numa maçaroca só.  A " dona xepa" o pai dizia... ia descalça , pés planos pisar as pedras, a terra preta, roxa, o estrume deixado pelos cavalos que iam por lá comer capim.  Mal vestida e sem calcinha porque era chique ter calcinhas na época.. custava caro, tb ei nao gostava e metia qualquer roupa caindo do corpo. Martelo nas mãos sentava no toco de árvore  e tomava a quebrar pedras.  Juntava um monte para mistura de fazimento de casas. Revolvia a terra arrancava capins, colhia as verduras, frutas. Bertalha , subiam pelos muros, um mar de suculências , mãe ia fazer com ovos da galinha do quintal. Vó socorria nas faltas. Nos invernos que secavam tudo. Pai pegava serrote, eu segurava firme a madeira, às vezes entre as pernas agarrava como um cavalo tosco segurando a crina, a gente ia fazer apoio pra roldana, tinha corda mas corda sozinha não leva coisa a outra.  So da amarrações e nós. O balde já  tinha também.  Que eu já carregava massa de cimento, pedras e entulhos. E água.

A hora do café.  Eu subia correndo as escadas, mãe tinha já preparado quentinho adoçado, levava devagar descia os degraus e sentava na pedra com pai, a fumaça de novo subia. Era manhã ainda como uma grande peça do mosaico no teto.  E do painel da parede de meu quarto. Tomávamos em silêncio observando os detalhes despercebidos de outrora. A névoa do café, o cheiro da terra, a força sobrecomum, o Sol acendendo cedo o gosto pelos terrenos , quintais e jardins. Pelo suor sede e sangue das horas. Pelo labor! O sabor do café absorto em silêncios e reflexões, o ímpeto de levantar logo e ir ao som das tabancas do pai. A voz rude, grossa vibrando a casa. Vez em quando eu ia lá no quintal e tocava as violetas da mãe, orvalhadas de noite e lua. Algumas velhas como espumas de chuva e  mar outras novas como jovens coradas. E, por uns instantes, sentava a meio da escada e contava os degraus e o tempo que me levavam com justa medida ao pai e à mãe para que quando me chamassem eu pudesse - no tempo  mais ou menos exato e ao máximo que pudesse- atender lhes o chamado. Era bem difícil quando os dois me queriam ao mesmo tempo.  O que era engraçado é que pai dizia: "vai ajudar sua mãe " , ou ainda: " sua mãe está lhe chamando". E quando com mãe as vezes ela dizia embora me segurasse por  mais tempo em alguns momentos específicos que depois conto.  Então ela dizia:" seu pai está lhe chamando" ou " vai lá no seu e peça isto " ou ainda " vai ajudar ou cuidar ou trabalhar com seu pai". Na verdade os dois eram e são partes metades da mesma escada. Eu percorria os degraus daquela escadaria.  Que a noite ao topo eu contemplava cheia a lua, às vezes vazia ou pela metade e nas manhãs o Sol à tona, átono, às vezes esfumaçado pela névoa das montanhas. E sempre à minha cabeça de cabelos enrodilhados no topo ao meio-dia como uma superfície  de cristal, sal, trigo, neve, alva pelicula de mar. Tudo não é miragem.

(Continua no próximo...)

Alessandra Espínola 

Rio , primavera de 2021.

Brevidades

 Da série de textos em tenaz constructo: 

Pensações e brevidades (Rio. 2021)


Penso quando é tão gostoso sentir o outro tal como ele é. Mesmo o corretor do celular - errante e descorrigindo tudo o que escrevo.  Já quem me sabe de conhecer e sentir entende mesmo quando a escrita parece uma hierorafia acrobática das palavras que não disse.  A leveza do afeto , do saber a si mesmo faz com que tudo se torne desobinublado e rio como reticências afetuosas à alma.  Cada vez mais deixo -me fluir assim qual finíssima pétala tocando nas mãos nas faces e nos corações e no couro mais macio de minha gata que se enreda nos meus braços e nos entregamos apenas em ser  e sentir. A manhã de domingo nos desperta musical como o marulhar das ondinas numa lua silenciosa e cheia de raros brilhos. A caricia das águas me amenizam os cansaços dos mergulhos e do surfar as quebradas. Carícias de águas serenas visíveis ao coração.  Sentidas por quem se põe sobre a beira ouvindo o sussurro de levar adiante barco por estas  bandas do afeto e da razão. 

Alessandra Espínola 

Rio, outubro de 2021.

Sagração so agora ...

 Sagração do agora ou diário de insinuações: 

(Rio. 2021)


Para mim não há distinção de ação em relação a uma folha de alface que morre a míngua dentro de uma geladeira sem que seja para nutrição de alguém como alguém que caiu de uma passarela ou ciclovia ou ainda de um teto que cai e desaba sobre muitos por falta das  mesmas condições e tratos, reparos, e acuidade nos mais detalhados e amplos aspectos.  Isso desde a colheita, transporte, armazenamento, grandes e pequenas empresas que articulam produtos e pessoas. (Ainda toco de leve nos medicamentos vacinas todas, estados de ferrovias estruturais -geofísica e humana). Casos que tangenciam desde segurança federal a  pessoal e dos mantimentos vários e imponderáveis à vida que transportamos)- ainda não corri os minérios e a forma como isso vem sendo atropelado -, observemos com simplicidade e severidade: falta de reciclagem , reaproveitamento e desperdício ou mesmo competência de tudo o que vem antes, excesso de acumulação de vários âmbitos e sempre numa visão ainda mesquinha, punitiva, imatura narcisica egoísta,  não mudamos nossa forma de olhar e lidar com a construção de nossa vida diária particular e em sociedade como um todo de forma pública, social, ampla, global. A água que despejada potável ao nada falta nas maior parte da cidade nas grandes comunidades. Sem que estes tenham sequer para beber, cozinhar e banhar-se acarretando doenças já nas literaturas tidas como extintas como a sarna que leva no mínimo 1 ano para cura ( tendo se for o caso água e medicamentos ) imagine outras mazelas e maleitas. O chumbo e o ferro e as nojeiras que a maioria da população tem bebido para não morrerem. Mas sempre chega a hora em que tb "o camelo sente sede". Necessário e urgente repensarmos e agirmos num planejamento mais acurada sobre tais questões.  A reciclagem do lixo pesado e infinito produzido em casa familia. Por cada pessoa. Em cada instituição.  É o sentir a vida que muito me move dentro e fora de mim como ela e eu fôssemos e somos uma só vida.  

A geração tem recursos de todas as  mais inimagináveis fontes , frentes e fundos para capacidade e possibilidade  de renda justa, emprego , casa moradias,  escolas de especializações várias e multifacetada,  saúde amadurecimento da vida no Rio de Janeiro e no Brasil. Sabe, não precisamos de um novo país brasil escolas blá blá blá...precisamos de novas  formas  de lidar com o que tanto nos transborda  e temos. Novo olhar, nova escuta, novo diálogo, novo pensar,  sentir e agir. A partir desta junção de continentes que há  muito vem se amalgamando, e por  vezes sim, viemos rompendo ou sendo de tal modo covardes porque autoritários  (e isso já não funciona  mais!) Aviso aos mais cômodos navegantes. Mar silencioso tb tem seus perigosos movimentos naturais. Em prol de uma rota cujo comandante nos sinaliza ir adiante em alto mar! Comandante  este que tem sido a ânsia de nossa alma. De nosso espírito inqueito pensante audaz coerente com a transformação constante e progressiva da vida , criativo por isso mesmo , e tb empatico, conciliador ,afetuoso, alegre e não menos sério, respeitoso, trabalhador, persistente, esforçado,  e  responsável. Caminhemos, um pouco mais. 

(Desta vez não falei dos mortos - de zoom infinitamente no signidicado!) porque é assunto para outro texto parte deste livro-ventre. Livre.

Alessandra Espínola. 

Rio, outubro de 2021.

Sagração do agora

 Sagração do agora ou diário de insinuações (2021)


O conforto nunca m acomodou. Por vezes, até causou irritações de mesmices nauseante e contraproducentes. . Aconchego - me nas entranhas livres de meu ventre-livro. Criativa e natural e totalmente viável. Vou tomar o meu  café, contemplar as nuvens - pra onde  vão, e começarei a colher do mar conchinchas que de oitros navios virão à praia no debruar das ondinas.  Sob a face materna da lua. Como só eu sei e amo .  Tb o pai amolando as facas na chuvosa tarde do ferreiro.  Zurzir metais. 

À lembrança de meus anteriores.  Vivos, em mim, portanto. Flores e castiçais .  


Alessandra Espínola 

Rio, primeiro de novembro de 2021

Sagração do agora

 Sagração do agora ou diário de insinuações.  (2021)


Caminhando, depois de a chuva ter dado uma trégua, sinalizo mais de 10 esgotos transbordando até que parei de contar. Também ia refletindo sobre  o hades que há de abrir assim mesmo de um modo tal poético  que há quem nem vá sentir.  Só a consciência empalidecer em seu estado de comodidade. Como frutos de fantasias, óbvio.  O inusitado e  inesperado  existe. E continuei caminhando cheguei a sorrir pelo fato de que não se precisa esperar momento algum pra transformar o (meu) mundo num lugar melhor. Ah eu tenho o sossego do passaro que voa na imensidão  aprendi cada detalhe das árvores e seus apegos -raizes. No entanto, isso não me prende. Aliás  é o que me lança e destronca para longes vistas azuis.  Barro e mar. Modelagem dos instantes, sabe. Como cera que derrete na ardência da chama de uma luz. Basta estar aqui a clarear a noite sem lua. A escuridão do silêncio às buscas pelos corpos, destroços e tesouros. Continuei caminhando sem tropeços.  Devagar que é meu jeito de fazer as coisas , as  contas . Nisso não há erro. E cirúrgico o tempo-ventre é dono da morte e da vida. Da terra que molda e move. Do inferno que se abre aos imbecis. Cruéis. Imprestáveis e injustos. 

Alessandra Espínola

Rio de Janeiro, primeiro de novembro de 2021.

Tarde de domingo

 Tarde de domingo

Antes de me deitar um tanto inclinada como fazem os velhos depois do almoço, olhei pela janela e contemplei ao longe palavras como nuvems sobre as águas da baía de Guanabara. Mas é de silêncio que vou decantando e depurando o que ainda não sei desenhar ou dizer. É como a ave que sobrevooa querendo pousar. Nas palavras guardo silêncios. Talvez. O abraço em contorno no nada. 

O que eu queria dizer é que tem épocas em que as águas mansas turvas lodosas se  mantém como que mulher de meia  idade. Aquelas que como eu caminha de pés no chão, a lata d'água na cabeça, mãos em cuia pra colher a chuva.  Tentei ouvir o marulho das palavras, a linguagem das chuvas. O balanço aqui dentro das águas.  O comunicado dos rios.  Eu vou me deitar ao som do irbiri e búzios. 


Vizinhos chamando Miguel ! Miguel! Miguel! É uma criança que me sorri toda vez que me encontra  e os seus amiguinhos perguntaram a ele  o que eu era dele pra tanta conversa e afeto. Ele então respondeu a todos na rua: é minha amiga ! Meu coração se encheu d'água por um ser de tão tenra idade se  meter na vida com tal qualidade de comprometimento me despertou um tempo que se descortina - pelo menoa para mim -, em meio a um mundo descartável e desamoroso. Miguel me vê e se me encontra dá o valor de nossa existência a cada travessia e encruzilhada.  Eu tenho essa mania na vida de tempos disjuntos.  No entanto, o tempo é a ágora de todos os agoras construídos por mim a cada encontro e a cada despedida.  Como se Miguel tivesse até nascido antes de mim. Ele parece aqueles pais que ninguém dá sossego, chamando Miguel Miguel Miguel.  Então eu penso, meu deus! Porque não deixam Miguel em paz. O olhar de Miguel parece saber das linhas  do coração. E quando os olhos dele pousam nos meus eu sinto que ele vê o meu coração e quando alguém raramente vê o meu coração eu me consterno toda numa quase timidez. Nunca vi Miguel chorar. Eu escuto e ausculto o choro dele como fosse no quarto ao lado ou na rua voltando pra casa.  Ele encara tudo como que  encarnado  em si um anjo. Às vezes, Miguel me empresta as suas asas ao meu coração e ele me transforma na menina que voa. Será ele me cobre com suas asas... (?) Sem distinção de bem  mal aprendo a ser pétala  pássaro nuvem e voo acima das nuvens. Nos olhos de Miguel eu posso ser eu. E isso, por vezes, só uma criança especial é capaz de tanta grandeza. 

Miguel, dos meus cansaços tu me nina !

Agora sim posso me deitar e  sonhar. Adormecer na lembrança do teu olhar cujos sentimentos criados por ti me sublimam e me trazem luz ao coração como se acendessem vaga lumes de  esperanças em algumas sombras de mim. Nesta tarde de domingo é Miguel quem, no silencio,  pousa suas asas-olhar-palavras em mim. 

Alessandra Espínola 

Rio, novembro de  2021.

Fragmento

 Chove. E vem no som da chuva os passos de minha mãe. Hoje, quando no meio da floresta replantando guapuruvus, ipês e pau brasil ouço a música  das pegadas úmidas tocando minhas mãos enquanto mergulho no berço da terra  as mudas em cuias com a mesma medida de  quem é parteira e tem a morte e a vida  nas mãos desde os tempos imemoriais. Ah as raízes expostas - eu gosto !-algumas já habituadas para fora outras cavadas até o profundo da terra onde eu gosto mesmo de ir em afundar  as mãos penetrar e ir de barro até o sabugo das unhas...Subir pelo caule podar . Retirar as lianas.  Desafogar dos capins. Puxados pela raiz como que cabeças nascidas ao mundo. Não, os capins não são de todo ruins.  Eles cumprem em si sua  benévola natureza sustentando a terra de desmoronamentos na falta de trabalho produtivido (dos homens) na flora nativa. Até rimou sem querer. No lugar dos capins vão as mudas nativas que em si tem a poesia da vida e do tempo infinitos. Depois de alguns momentos, parada olhando a ciranda que em torno de mim é feita, sorrio levemente , o cheiro de lama e terra molhada e  seixos umidos,  escorregadios  e folhas macias já deitadas pelo tempo me tomam no colo e me embalam numa cantiga materna . Chove. E, no lago à frente, das fundas águas surge uma  garça branca livida  e luminosa, pousa na pedra e abre as asas com toda leveza de uma dança se aproxima de mim como que  num milagre, o bico mostrando o caminho a frente e logo levanta voo de novo. E,  some entre as folhagens daquela parte lodosa da floresta. Debaixo de suas águas estarei segura, e depois no voo de minhas próprias asas...oh deusa senhora das águas! Voltam, pois as graças e as garças!

Rio de Janeiro, novembro de 2021.

Alessandra Espínola

Diario de insinuações ou sagração so agora

 [Dário de insinuações ou Sagração do agora]


É  manhã de domingo. O Sol! Ah o Sol com tanta elegancia e simplicidade me envolvendo toda na casa. Como o renascimento coroando meu ventre. À janela o vento acaricia meus cabelos tão suave que a lágrima me cresce como flor nos cabelos. As montanhas em comunhão com o céu .  Aqui onde a nuvem  alva como uma cabeça branca se inclina e me beija o topo da cabeça e as mãos .  Sim, as mãos nas quais ergo como num gesto delicado de balet. Pra quê ? Imagina...  Meu coração se expande como um músculo que cresce trabalhado, talhado, modelado, é  em acabamento desde os tempos em que a terra pulsava magma chama fonte e o fogo de eras . Domingo! E de novo Miguel, agora mais um me apareceu, Samuel. Sim Samuel.  Como dois irmãos ou amigos que vem ao redor e à minha porta e cujo som e cores e sensação magníficas  de seus nomes me harmonizam e presenteiam a minha casa sem invadir. Dando me o inenarrável.  Curioso o fato de irem chegando assim como uma comitiva, uma surpresa com a  qual meu sorriso se desenha na face. Como crianças anjos que vão chegando como quem brincam por todos os lugares onde passei. E dizem.a mim que estivera em toda caminhada. Eles me encontram.  Na solitude magnífica de mim e de meu lar eles vem e levam as sombras num gesto de presença de luminosidade própria. Quando possa algum momento em ir em profundidades densa cujos odores me tonteam, cuja atrocidades me processam em morrimentos.  De lá eu volto com essa espécie de jóias brilhantes. Algo ainda mais valoroso que isso. Entes áureos. Não sei nomear tão graça indescritível. Fico pensando nestas palavras que como pássaros  e silêncios me sustentam a subida a  viagem a caminhada. O coração que montanhoso eu mesma escalo. 


O Gabriel me apareceu outro dia uma vez . Embora este venha desde a minha tenra infância , estes dias rstava mais ao largo dando a frente ao outros dois, e me olhou terno e suave , tênue luminoso em tom pastel cintilante. ( nos olhamos)como quem diz que também veio e não me deixou e logo vai falar comigo a seu modo que o conheço um pouquinho de nada. Assim com mais tempo, porque ele é! Por sustentar sua presença no tempo e entre todas as coisas por mais absurdas que sejam mas tb mais lindas que se possa experienciar e entender.  Viver e cumprir a promessa de vida que eu mesma me fiz a mim. Que aliás esta é a única promessa maior que habita em nós.  Em toda vida na terra. 

Rio, 15 de novembro de 2021.

Alessandra Espínola

Fragmentos

 Fragmentos do instante: 

O que todo mundo já sabe e  sempre soube é que a  qualidade e   progresso da educação brasileira escolar não está na quantidade de  tempo que estudantes ficam dentro da escola, socados ali como sabe-se  lá o que. Mas na qualidade e  na forma como se aprende. Por isso mesmo há tanta fuga e falta porque talvez não haja maior bullying que  esse: aprisionar alunos como fossem o quê! Ou mesmo enterra-los ali tornando-os alienados  e zumbis na e da sociedade  (da  familia, da convivência humana e suprimindo possibilidade de autoconhecimento, autorespomsabilidade , capacidade de escolha e decisão, aprender coisas como conversar, diálogar , saber como fazer? Fazer não é!  Saber (exercitar) deixo claro aqui que saber é fazer,  viver enfim sobre a multimensionalisade do SER enquanto aprendiz e mestre de si - crianças e adolescentes precisam aprender a serem vistos como possíveis e futuros adultos ) são  alienados  na e da própria  vida de agora e  futura , de suas capacidades e desafios a serem trabalhados. Aleijados e ausentes para que óbvio sejam considerados todos como incapazes e dependentes e recebam moletas e drogas (da zoom no significado) dos que governam e de todos os outros que representam autoridade na vida social.  Isso é um soco na gestação e gestão  de nossa educação brasileira. Na barriga da  patria amada , no ventre desta terra brasileira.

Fosse mesmo uma educação de qualidade não teriamos a  quantidade de horas aumentada (como sistema de fábricas onde se gera lucro para  os donos dessa porra toda?) Alunos em sendo números  sem a qualificação e especificidades de  oficios por exemplo, e de ter opções de todas as artes e filosofias , tecnologias e  linguagens possíveis para o total ai sim integral desenvolvimento de crianças e adolescentes no processo (tempo espaço) quando  se ficam na escola. Horário integral, que se diz não é senão a desintegração do ser em obstrução covarde , ignorante e miserável ainda mais com o núcleo familiar  menos favorecido .  Sem contar a  desintegração que toda essa estrutura fracassada engendra em alunos, profissionais da educação e sociedade como um todo. Vislumbramos o caos não somente agora como no futuro ( não muito distante) onde uma intervenção realmente dura há de  por ontem na casa! Só pra lembrar que se puder quero estar metida nessa. Que a geripoca vai  piar! Pra que? (O leitor pode vir a perguntar) para um tempo e um espaço mais harmônico e  justo e expansivo de verdadeira  ordem e progresso. Num tempo onde atitudes serão propositivas e positivas visando sim a independência, responsabilidade , liberdade, autonima (de cada um e de todos como sociedade, claro!), portanto. 

Alessandra Espínola

Rio, primavera de 2021.

Canções de flor e fonte

 [Canções de flor e fonte]

Agradecer pelo rio que corta o lugar onde nasci e morei.  Ali,  a praça num carrossel de imagens líricas. Raízes costuradas infinitamente para encontros futuros noutros ramos e rumos.  O coreto cantava em cima do rio no correr das águas. Como o miolo de um temporizador onde atravessamos e fazemos a passagem correndo todos nós nessa liturgia do tempo todos nós pequenos grãos de areia finissimas no cosmo ( gerando pérolas?). A sombra se aproximava das horas. Ah o sol de meio-dia, ampulheta da alma. Chegava perto do céu o som das coisas crescendo. Coração e flor deste chão.  Tinha era perfume de sol nas manhãs destampadas, gatos rolavam numa grama tenra ainda.  Areia. Árvores. Pedras. Frutos. Pássaros. Mulheres. O amarelo do sol guardado na memória do passado. O cheiro das flores das árvores caídas no chão pintavam a cena de uma infância álacre curtida de ventos,  lírios e águas. Agradecer pelo rio que torna à fonte. Agradecer por me tornar fonte inesgotável de  mim. 

Alessandra Espinola

Rio, primavera de 2021.

Fragmentos

 Fragmentos  :

Vertigem de ser o coração aberto e a entrega florescida no caos. 

O olhar cúmplice da alma por um instante sendo amor. Não, não essa coerência e linearidade que tu pensas tudo isso que te digo. Vem, é assim como sentir o frio e ser com ele nele. Em sendo o frio sentindo o frio. Amar o frio. Sendo o tempo na ágora de agora.  Amar na conjectura. Nas fendas. No escuro cintilar galacteo. Abrir -se num leque de cores em dança e infinidade de tons e matizes. Entremear raízes. Se expandir  na imensidão até desfazer-se. Cinza. Magma. Rocha. Carvão.  Mergulhar na sombra. Como quem se ergue. Romper tendões. Aquiles que me grita. Aqueles que me habitam. Religa-los. Reconstruir regenerar a corola em botão rediviva rosa (mistica e viva?), uma a  uma pétala que renasce em seu temp(l)o de  brotação de ser flor coroando o peito. Coragem de ser flor. Percebe? Lentamente abrir o coração. E deixar a voz ser o leve contorno do silêncio. 

Alessandra Espinola 

Rio, setembro de 2021.

Fragmentos

 Fragmentos:

Filha do fogo e da água.  Corpo de  barro , chuva, pedra, magma. Água pura..sangue vivo de uma terra que se ajuntou de verde vermelho branco azul amarelo brasão. Açafrão. Turquesa azul - delicadeza dos  mares nos  azulejos. O lustre. A taça.  As xícaras. Os pratinhos de pira louça porcelana desenhados à mão. Nossa senhora acesa dourada preta azulada no alpendre, iluminando o batente onde dormi toda uma vida. Dormia nos braços alvoroçados das ondas e das chuvas espumosas e intermináveis. Amanhecia como em sonho na casa de barro moldando ainda na mãos desta terra viva noventa e silenciosa como o tabaco de meu pai.  A fumaça do fogareiro, do fumo, do fogo de monturo enchendo as manhãs, o quintal , a casa, era toda eu névoa. Era toda eu casa. Quintal. E chão. Era fogo! Sob os olhos do pai-vô. Os tamancos de madeira sarandavam no chão de taco tb de madeira escurecida  brilhante e batiam como quem bate a porta das manhãs convocando a menina ao café e ao trabalho. A descoberta e_laboração de si, do mundo, da vida . Mal dava tempo de vestir, ia do jeito que estava, assim mesmo debaixo das cobertas, mas me dava sob a luz do dia descoberta. E inteira. Corria lentamente a enrodilhar os cabelos numa maçaroca só.  A " dona xepa" o pai dizia... ia descalça , pés planos pisar as pedras, a terra preta, roxa, o estrume deixado pelos cavalos que iam por lá comer capim.  Mal vestida e sem calcinha porque era chique ter calcinhas na época.. custava caro, tb ei nao gostava e metia qualquer roupa caindo do corpo. Martelo nas mãos sentava no toco de árvore  e tomava a quebrar pedras.  Juntava um monte para mistura de fazimento de casas. Revolvia a terra arrancava capins, colhia as verduras, frutas. Bertalha , subiam pelos muros, um mar de suculências , mãe ia fazer com ovos da galinha do quintal. Vó socorria nas faltas. Nos invernos que secavam tudo. Pai pegava serrote, eu segurava firme a madeira, às vezes entre as pernas agarrava como um cavalo tosco segurando a crina, a gente ia fazer apoio pra roldana, tinha corda mas corda sozinha não leva coisa a outra.  So da amarrações e nós. O balde já  tinha também.  Que eu já carregava massa de cimento, pedras e entulhos. E água.

A hora do café.  Eu subia correndo as escadas, mãe tinha já preparado quentinho adoçado, levava devagar descia os degraus e sentava na pedra com pai, a fumaça de novo subia. Era manhã ainda como uma grande peça do mosaico no teto.  E do painel da parede de meu quarto. Tomávamos em silêncio observando os detalhes despercebidos de outrora. A névoa do café, o cheiro da terra, a força sobrecomum, o Sol acendendo cedo o gosto pelos terrenos , quintais e jardins. Pelo suor sede e sangue das horas. Pelo labor! O sabor do café absorto em silêncios e reflexões, o ímpeto de levantar logo e ir ao som das tabancas do pai. A voz rude, grossa vibrando a casa. Vez em quando eu ia lá no quintal e tocava as violetas da mãe, orvalhadas de noite e lua. Algumas velhas como espumas de chuva e  mar outras novas como jovens coradas. E, por uns instantes, sentava a meio da escada e contava os degraus e o tempo que me levavam com justa medida ao pai e à mãe para que quando me chamassem eu pudesse - no tempo  mais ou menos exato e ao máximo que pudesse- atender lhes o chamado. Era bem difícil quando os dois me queriam ao mesmo tempo.  O que era engraçado é que pai dizia: "vai ajudar sua mãe " , ou ainda: " sua mãe está lhe chamando". E quando com mãe as vezes ela dizia embora me segurasse por  mais tempo em alguns momentos específicos que depois conto.  Então ela dizia:" seu pai está lhe chamando" ou " vai lá no seu e peça isto " ou ainda " vai ajudar ou cuidar ou trabalhar com seu pai". Na verdade os dois eram e são partes metades da mesma escada. Eu percorria os degraus daquela escadaria.  Que a noite ao topo eu contemplava cheia a lua, às vezes vazia ou pela metade e nas manhãs o Sol à tona, átono, às vezes esfumaçado pela névoa das montanhas. E sempre à minha cabeça de cabelos enrodilhados no topo ao meio-dia como uma superfície  de cristal, sal, trigo, neve, alva pelicula de mar. Tudo não é miragem.

(Continua no próximo...)

Alessandra Espínola 

Rio , primavera de 2021.

Cartas

 Pra você, é claro!

Na calada da noite, você transforma meus vazios e silêncios  em canções de amanhecer.  Onde a água do rio doura,  bebemos nossa sede. Tu trazes meu sorriso de volta como cavalo alado no peito - que galopa.

Eu vou entrar no sertão. Vou ser o mistério de tua Diadorim!  Possa eu chegar ao final. Mãos dadas no por do sol até lá onde, de novo, Amanhece!

Alessandra Espinola

Diario de cartas 2

 Diário de Cartas 2: (rascunhos e rabiscos )

*

Sabe que de melhor hoje foi você o que ocorreu. O campo verde de terra estrangeiro meio familiar se confunde e se mistura com o azul de um mar inteiro a caber nos teus olhos. Como quem voa de cabeça para baixo. A noite penetrava entre nós e eu colhia de tua face os escritos do tempo. Raízes. O tempo esteve o tempo todo em nós.  Que quando soava a pergunta onde você estava, eu em silêncio sempre respondia apenas sendo. Cigana. Canina. Menina. Raposa. Volátil. Escorregadia.  Distraída. Mulher... Impossível até de mim. Impossível o encontro. O lance do olhar capaz de acolher. Cadê? Perdemos será? Qual perdas no tempo. Os caminhos se bifurcam num virar de esquina e já vamos longe...distantes. Com o desejo primitivo voraz de se dar. 

Eu alisava à palma das mãos o teu rosto com gosto como se logo me dissesse adeus. Sabíamos. O gosto que fica. Doce absinto o luar. Li a tua história no aberto livro do teu peito.Como braile lia teu corpo-alma  desnudado. Meus lábios colhendo teus frutos a flor a pele o lábio a língua carinhosamente espancando músculos. Teus nervos em desassossego me tremiam no fundo de um beco. No porão do tempo o futuro se impôs num presente surpresa. E você de repente era tudo o que sempre quis. 

Um beijo!

A.

Alessandra Espínola 

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Fragmentos (Rio, 4/Novembro/2020).

 Vai demorar um pouco por que velhas e velhos trabalham lentamente , devagar e no silêncio do corte como que samurai... afiando a faca a lábia a lagrima a água a terra e o fogo... o homem debochado da femea e q não respeita a natureza por si só atrai e cava a cova rasa exposta e para uma Lilith furiosa e Injustiçada não sobra nem a ultima vértebra... nem o fôlego último para pedir perdão.  Justiça É. (Calma q é porque ainda não foi). Velha bruxa trabalha é no oculto silencioso do sangue que escorre seja por dentro de um himem ou de uma menstruação de vida inteira. O tempo de trâmite (o trânsito do que não se escapa) é alem da lei aparente (dos homens) , a sábia lábia de crocodilo fica bem mais embaixo no profundo do caos e do túmulo de todas as mães e mulheres de todas as raízes do ventre da terra! retorno de todas as deusas e deuses - mulheres e homens do mesmo tronco e da mesma lágrima (velhas sábias e sábios) para que exatamente tudo seja feito conforme. Seja feito! Boiuna se levantou do lodo do lago da lama do barro mais primordial e vai a fumar. Para a lábia do crocodilo fazer valer até os confins... por todas as luas e evas e liliths por todas as venus: justiça é boa quando lenta. Porque é finda e é no cutelo. Ai de quem! Ai de quem desrespeita a mãe a mulher e o oculto dos ventres.  Amém!

Eita q vai ser de doer. Quer queira ou não queira. E eu não terei pena! 

A. E.

Rio, 04 de novembro de  2020.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Funduras e mergulhos. (Rio/2020)

 Tentei escrever uma vida inteira de vezes o que sentia, via e vivia, a lágrima de luz que desenterrava da lama, as vidas e os mortos da menstruação já meio ressecada do tempo. Era o tempo passando pelo corpo, regando e rasgando a terra, rachando as paredes dos velhos casebres, a cor estrumal do barro, vermelho e junco do tronco e da árvore genealógica de um ciclo incalculável de processos de transformação e renascimentos, as partes alquebradas vindas de uma memória tênue, netuniana e solar.  Descobertas na des_construção de um eu pelo todo e para o todo. Tentei por vidas várias vezes viver o óbvio e o descontrole que há em tudo que flui. Das marés ao pó. Incisiva fui na fundura de sapatas para o nada. Atestar que não há vazios. Vivo o transcendente. A justiça do cálcio e o imparcialidade do mercúrio nas mandíbulas terrestres de cal e granito. O veneno antídoto na ponta da espátula. Quebrar a relíquia do dogma. Velar a ciência e o ouro. Ter o olhar oblíquo cortante de um dente de sabre e tigre que rasteja e voa nos primórdios do enxofre de um vulcão. Forjar se de imaginação, poesia e misterio -eis o magma dos oceanos em mim. Descrucificar a mãe. E o pai. Coroá-los até a sepultura sem nomes ou sobrenomes. Catalogar o concreto ilusório e passageiro dos corpos que tive até o instante do piscar dos olhos e das entrelinhas dos cárceres e dos raios lunares costurados entre as vértebras. Eu sou a incansável Ágora e o indomito Agora. Seja qual ínfimo, infinito instante de ser em sendo eu mesma. Frêmita fêmea alquímica. Secreta, oculta. E nunca,  deserotizada! A casa ... a casa ... é viva e mora em mim. Reconstruo obras de vida. Limpo a cal e o esquecimento. Recolho os ossos da sepultura e com eles incenso o silêncio que é uma tal alma das palavras esculturais do temp(l)o. A lingua(gem) sôfrega, ardida e sorvente me ocupa do imponderável e me lança às esferas e às espirais do conhecimento. 

Texto e imagem: alessandra espinola. 2020.

Fragmentos do instante. (Rio/2020)

 Como a formiga caminha e sobe seus degraus de folhas. Assim eu caminho sem parar, faço pausas consideráveis para dormir, alimentar, respirar, repousar, olhar a formiga tiquinha carregando sua folha de toneladas. Cada um com sua folha sabe o quanto pesa e o quanto vale e o quanto importa. Cuide da sua folha , ela é só sua. Foi dada a você! Sejamos gratos, fortes e carreguemos nossa folha. Do jeito que ela é! Da forma e cor que ela é. Sem julgar a folha do outro. Pois temos todos as folhas da mesma árvores vindas do mesmo tronco e da mesma raiz. Cada um com seus nutrientes e cada um no seu tempo. Cada um sendo o galho segurando sua folha. Dando seus frutos e flores tal como cada um é e na sua própria estação e tempo tão distinto do outro. Quando respeitamos a folha do outro estamos honrando e respeitando a própria vida que recebemos. Cada um sabe o esforço e o preço que paga por sua folha. Eu com a minha folha e você com a sua. Sigamos! A sua folha é adequada somente para você. Tem tudo de que você necessita se alimentar, nutrir,  sombrear , pisar , navegar, aprender e viver! Respiremos. Assim eu vejo a fileira de formigas... Então, de repente, a formiga faz uma pausa. Parece dormir, conversar com alguma outra formiga...ou mesmo se deliciar com o canto espectacular da cigarra!! aprendi com nossas formiguinhas que somos o fluxo imparável do tempo como um rio que corre e seca e enche e esvazia e morre e nasce de novo em sua nascente de ser. O rio pausa - com suas águas em mansinho num murmúrio suave , doce e cristalino. A vida é feita de ciclos, estações, pausas, mortes e renascimentos. Mas sempre em frente! E cada dia uma folha cai e brota. Uma nuvem passa no céu e nos lembra da transitoriedade de tudo tanto quanto da generosidade da Vida! 🍀🌷

Imagem e palavras: alessandra espinola.  2020

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Rio/2021. Fragmentos

 Fragmentos


(Textos inéditos  2021)


Vem, lhe mostrarei a hora das seis , quando mamãe silenciava e ouvíamos os pássaros em revoada aos céus.  O olhar apenas sério e chamativo como uma chama de vela acesa no leve noturno que se pronunciava.  A  mesa posta, toalha de renda branca, as mãos postas tocando as nossas espaldadas e unidas. A firmeza dos pés no chão, sim sentavamos alacres e eufóricos , às vezes com alguma impetuosidade agressiva e corrediça, ajeitavamos a bunda na cadeira de madeira dura curtida, e eretos plantados à terra com o coração sobrevoando as densas eras passadas daquelas tardes de tapera. Ah a paz ! A paz no suspiro de vida que entrava pelas narinas.  O_culto ao coração. A revelar a alma. 


Alessandra Espínola

Rio, 26 de outubro de 2021.

Cartas a P. P. (RJ/2021)

Carta a P. P.

Que alegria imensa tem sido a tua abertura , olhar e propósito. Ido os medos inseguranças , dúvidas  e oscilações após deixar para trás tanto mar quando tu decidiste seguir está "viagem diplomática " no cuidar dos tesouros de todos. Encontrando-nos enfim a pedidos. Com teu olhar agudo e atento. As mãos como um Maestro nesta orquestração muitas vezes dissonante, trazendo as células músicas que vibram os tesouros tanto tradicionais e modernas, graves e agudas. Incipientes e maduras deste servir público que nem mesmo com a fome e a nudez se corrompem. E, com paciência temos ensaiado o melhor espetáculo para todos. Obrigada por seguir. Aqui expresso com gosto
esta tua trajetória. 

Quero parabenizar por todo seu caminho, pela coragem na lapela , pelos gestos que chamam e abraçam. Reúnem. E manipulam alquimicamente a roda da fortuna. Dando voz a toda tua arte de negociação e a  tentativa de prezar pela máxima da reciprocidade e das  honestas e empenhadas e justas medidas de cada cadinho. 

Voltar no passado é ao fundo e  sempre será  uma via que nos trará respostas tb ao futuro desde que tenhamos feito nossas próprias e necessárias descobertas.O jovem ávido com o tal brilho no olhar que ainda possui como lua brilhando no céu, cheia.  As sobrancelhas arqueadas como duas montanhas a subir. Continue a escalada num zigue-zague muita vez. O gosto pelo trato das finanças , o combustuvel , tudo disponível a tua artesania de mago  manejando todos os recursos dispostos na bancada (recusos internos  e externos sob teu arguto, como um alquimista ou pescador ou lavador de roupas sujas na beira do rio economizando o despejo de água limpa tratada e potável desviada irresponsavelmente  para o esgoto ou da praia ou nos templos com a talmude ou ainda nos almoços contemplando os azulejos de além mar. O afeto dispensado  a ti por tantos. E as perguntas lançadas em tua  mesa ou no fundo destas bagagens são o incentivo para que  tu lembres e  saiba:  leve o tempo que for,  mas cuidemos! ah, olhávamos adiante para  um novo horizonte com aquele ardor tb de romper com o processo de tanta acumulação , desperdício e injustiças. Reciclemos, reaproveitemos, pois tb.  Eis a longa  e URGENTE chegada hora!  Já tão  sabida de nosso BerçáRio  Natal. 
Voltemos : as aulas com os mestres simples já de cabelos grisalhos com uma linguagem de quase casa e rua a nos ensinar economia.  O Serviço Social. História.  Planejamento. Numa conversa quase informal falando de teorias complexas assim como que sentados à base de árvores e raízes consistentes ancestrais  da longa rua que dá no mar. A praia vermelha nascida das  manhãs ora chuvosas ora ensolaradas e nos intervalos os encontros culinários no "sujinho" . Os encontros com os legistas e os vizinhos africanos vindos para o Brasil em busca de conhecimento e trocas que nem eram tão xiitas quanto temos sido ao longo do tempo nas nossas diversidade toda e relações sociais das mais variadas. Os encontros com os artistas  e com os intelectuais que impulsuonaram a levar a tocha até o fim e até onde qualquer um de nós precisasse de nosso fogo. E fôlego. Sim, sob o antigo prédio de pilastras Greco -romanas nossas vidas seguiam com interesses cuidadosos de como lidariamos com Valores.  Nossa ânsia não utópica nem ufanica mas possível é real. Cada um na sua escolha, na sua cadeira,  execução, estudo, pesquisas práticas cotidianas e administração a caminho não só do que já sabíamos mas também ao novo e ao desconhecido.  O futuro e as mudanças pelas quais passariamos e estamos a passar aqui e agora neste tempo de funduras, crise e caos. Sabíamos que uma hora outra havíamos de nos reencontrar, agora mais maduros, sem medo, sem mágoas, e sem tantos apegos. Fato é que temo lidado com isso e hoje sabemos você e eu que necessitamos contar apenas com os próprios recursos internos e externos ( o RJ, todas as   cidades, o Brasil) . 
Sabe, tive orgulho de ver que tu tenhas reconhecido e lembraste de nós. E veio ao nosso chamamento- encontro  tão aberto ao diálogo e propositivo. Tônico e com a sensibilidade de sempre permeada de alguma irônica, venha traga-nos o teu bom humor. Tb aqui temos leveza e brincamos uns com os outros , todos por um e com um , zoando como abelhas incansáveis que trabalhamos e trabalhamos duro! Sem perder o gosto pelo mel. E oferece-lo, portanto!
Vou começar a te dizer, com o afeto de sempre . Ouca: não há bárbaros ente nós.  Precisamos de sua ajuda e tb estamos aqui para trazer os tesouros do fundo. Somos todos um. Ajudaremos tb. O que já temos feito.  E, agora quem sabe trazendo a bagagem necessaria de um tempo antigo mas com outras formas de  olhar e de lidar juntamente propostos a interagir e dialogar. Entre nós, a busca pela possibilidade do encontro, do aprendizado de complexidades e questões que tu trazes tb. Muitos do grupo tem ido a teu encontro, sob valores da democracia com todas as diferenças.  A  possiblidade de troca é enriquecedora em amplo aspecto. (Dá zoom no significado).  Somos uma espécie inteligente e sofisticada , alguns tem entrado por este pórtico várias e repetidas vezes como tb sentávamos na arena em frente ao prédio com ânsia de soluções práticas, objetivas (se necessário imediatas sim!-, mas principalmente mediadas e mediatas e ostensivas e com e_feito progressivo de maturação como as frutas que por lá caiam no chão ( e eu como um jabuti já recolhia as sementes de outrora e ainda hoje continuo para o replantio e reflorestamento que há tempos temos feito),  ou seja, do  cuidado que tu tens feito tb. Ademais, mais a frente logo já te aviso o que tu tb já sabes da nutrição, dos alimentos e do cuidado com os velhos- lembre-se disso! Ah Aproveitar os recursos e evitar os desperdícios tb, tônica de tuas falas entre palavras mais técnicas e teóricas.  Com esforço, responsabilidade , persistência e sensibilidade.  A Grande Musa te acompanha. A arte da política e as grandes artes. Peço-te que , se possível, continue seguindo nesse terreno inóspito , movediço e gelado deste longo e rigoroso inverno. Troquemos ferramentas, os suprimentos andam parcos, o frio tórrido, alguns se foram. E os que adoeceram e necessitaram dos serviços sociais -direitos inclusive extremamente necessário ao que contriburiam e gastaram horrores com saúde, abriamos mão  ou nos foram tirados a baila da burocracia , interesses que não visam o bem comum, verbas/direitos "tirados" porque não foram automaticamente entregues a quem devia - trazendo com issso acúmulos gigantescos ao longo da travessia de todos esses incontaveis anos e tempos! À guiza de autoritaritarismo , displicência ,  embaços e embaraços graves na administração, e na economia sim (o valor financeiro) em prol do cuidado e restabelecimento da saúde  (valor imponderável) negados , e oculto aos  que nos servem e tão  indubitavelmente buscaram sem a devida atenção, coerência, especificidade e diálogo entre todos. É preciso repensar com rigor, competência  e acolhimento estás questões e se possível todos os casos. Este e tantos outros exemplos de vários direitos e serviços que tem sido negado, de formas sutis e algumas vezes violenta de todos,  do grande grupo. Certeza que sentaremos humildes e dispostos incansavelmente comprometidos a por as cartas sobre a mesa. E juntos chegaremos à soluções que visem o justo e o bem de todos ainda que em atraso. Traga com segurança nossos recursos alienados e atrasados ainda que em bocados generosos, portanto.

Derretem as galerias de geleiras, parte desse aguaceiro de consciência que inunda a terra.  Aqui, fazemos de tudo para dividirmos tudo, carregamos o que pudermos nesta expedição, tem mais além, um trecho ainda mais duro, é necessário persistência. A  infraestrutura, sabe!?  Muitas antigas já não dão  mais conta e movem-se ao fundo já algum tempo e você sabedor de fundos e  tetos , compreende , não é!? Muitos no caminho auxiliando a todos. As pequenas pausas e hospedagens. Sabe, as vezes tenho a sensação de que te reencontro na civilização porque eu aqui segui outro caminho como fosse nas geleiras da Groelândia em prol de uma educação cujos valores se  baseiam na ética translúcida : democracia , no respeito, liberdade, verdade, justiça, harmonia e colaboração.  Pensamos e praticamos formas de como lidamos com a terra, agricultura , o território, moradia (parece estranho lembrar : ainda é preciso habitar!), mapeados os lugares e espaço abandonados, cada um deve de ter seu espaço no mundo e sabemos-nos cada um o seu lugar em suas capacidade e habilidades no esforço de estabelecermos  (diante de qualquer mudança) os meios integrais e mulitfacetados da vida ,  refletimos sobre os recursos, a natrueza, a arte, os animais, a estrutura toda. E os cuidados uns com os outros. Neste tempo num novo encontro, muitos deste grupo tem ido até tu e até os teus líderes tb. Aqui, líder tem o prático sentido de quem mais serve. Se desenvolve a si e a todos. Não como servil subserviente. Mas o que constrói e cuida e toca o barco juntamente com todos e para todos. Passamos o bastão, ninguém quer mais ou ter  mais que o outro porque se sabe merecimento. Peço que aos que forem até ti possam ser trazidos em segurança. Todos tb os que foram punidos por seus erros. A nossa lógica  é que quem erra não seja punido ou excluído mas sim reunido analisado refletido pensado e principalmente corrigido com acolhimento , seriedade e responsabilidade para que não o cometamos mais  no futuro.  Que possam trazer todos de volta com segurança, e de algum modo estáveis se assim o quiserem. 
Não nos preocupamos em julgar temos muito o que fazer (aprender e ensinar /trocar-compartilhar e trabalhar) todas as perguntas são vindas das dúvidas, faltas, pressa sim e desencontros. O caos não nos precitpita, a crise não nos aniquila, e a instabilidade e insegurança não nos causa medo. O que viemos então querer? Trocar tesouros e cuidados. Encontros. Dizer  que estamos tb dispostos há muito em colaborar e já o temos feito desde nossos bisavós e antes mesmo cuja contribuição sempre foi extensa e elevada , vital e o temos feito e assim tem sido nossa contribuição maior que o custo. Isso pesa sobre os pequeninos.  Ainda temos muito a contribuir e falar nesta dialógica limpa e límpida, complexa  sim mas diplomática e necessária. Sem a qual não conseguiremos avançar.  
Haverá o início do fim. Então.... sigamos um pouco mais na descoberta de um novo mundo. Com mais diálogo e maturidade de todos os lados. 
Por enquanto, é o que consigo dizer e num profundo abraço junto ao teu coração te saúdo: "Selde wende"! "Selde wende!"  Selde wende!"

Significado:  (*temos o mesmo pai e/ou somos irmãos)

Alessandra Espínola
Rio de Janeiro, outubro de 2021.
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Texto /cartas 2021.
Vivendo não somente sob o poder do fogo do metal da tecnologia E da comunicação.

Sagração so agora ou siario de insinuações. (RJ/2021)

 Da série de textos em tenaz constructo: 

Pensações e brevidades (Rio. 2021)


Penso quando é tão gostoso sentir o outro tal como ele é. Mesmo o corretor do celular - errante e descorrigindo tudo o que escrevo.  Já quem me sabe de conhecer e sentir entende mesmo quando a escrita parece uma hierorafia acrobática das palavras que não disse.  A leveza do afeto , do saber a si mesmo faz com que tudo se torne desobinublado e rio como reticências afetuosas à alma.  Cada vez mais deixo -me fluir assim qual finíssima pétala tocando nas mãos nas faces e nos corações e no couro mais macio de minha gata que se enreda nos meus braços e nos entregamos apenas em ser  e sentir. A manhã de domingo nos desperta musical como o marulhar das ondinas numa lua silenciosa e cheia de raros brilhos. A caricia das águas me amenizam os cansaços dos mergulhos e do surfar as quebradas. Carícias de águas serenas visíveis ao coração.  Sentidas por quem se põe sobre a beira ouvindo o sussurro de levar adiante barco por estas  bandas do afeto e da razão. 

Alessandra Espínola 

Rio, outubro de 2021.

Sagracao do agora ou diario de insinuações Rj/2021.

 Sagração do agora ou diário de insinuações: 


(Rio. 2021)


Para mim não há distinção de ação em relação a uma folha de alface que morre a míngua dentro de uma geladeira sem que seja para nutrição de alguém como alguém que caiu de uma passarela ou ciclovia ou ainda de um teto que cai e desaba sobre muitos por falta das  mesmas condições e tratos, reparos, e acuidade nos mais detalhados e amplos aspectos.  Isso desde a colheita, transporte, armazenamento, grandes e pequenas empresas que articulam produtos e pessoas. (Ainda toco de leve nos medicamentos vacinas todas, estados de ferrovias estruturais -geofísica e humana). Casos que tangenciam desde segurança federal a  pessoal e dos mantimentos vários e imponderáveis à vida que transportamos)- ainda não corri os minérios e a forma como isso vem sendo atropelado -, observemos com simplicidade e severidade: falta de reciclagem , reaproveitamento e desperdício ou mesmo competência de tudo o que vem antes, excesso de acumulação de vários âmbitos e sempre numa visão ainda mesquinha, punitiva, imatura narcisica egoísta,  não mudamos nossa forma de olhar e lidar com a construção de nossa vida diária particular e em sociedade como um todo de forma pública, social, ampla, global. A água que despejada potável ao nada falta nas maior parte da cidade nas grandes comunidades. Sem que estes tenham sequer para beber, cozinhar e banhar-se acarretando doenças já nas literaturas tidas como extintas como a sarna que leva no mínimo 1 ano para cura ( tendo se for o caso água e medicamentos ) imagine outras mazelas e maleitas. O chumbo e o ferro e as nojeiras que a maioria da população tem bebido para não morrerem. Mas sempre chega a hora em que tb "o camelo sente sede". Necessário e urgente repensarmos e agirmos num planejamento mais acurada sobre tais questões.  A reciclagem do lixo pesado e infinito produzido em casa familia. Por cada pessoa. Em cada instituição.  É o sentir a vida que muito me move dentro e fora de mim como ela e eu fôssemos e somos uma só vida.  

A geração tem recursos de todas as  mais inimagináveis fontes , frentes e fundos para capacidade e possibilidade  de renda justa, emprego , casa moradias,  escolas de especializações várias e multifacetada,  saúde amadurecimento da vida no Rio de Janeiro e no Brasil. Sabe, não precisamos de um novo país brasil escolas blá blá blá...precisamos de novas  formas  de lidar com o que tanto nos transborda  e temos. Novo olhar, nova escuta, novo diálogo, novo pensar,  sentir e agir. A partir desta junção de continentes que há  muito vem se amalgamando, e por  vezes sim, viemos rompendo ou sendo de tal modo covardes porque autoritários  (e isso já não funciona  mais!) Aviso aos mais cômodos navegantes. Mar silencioso tb tem seus perigosos movimentos naturais. Em prol de uma rota cujo comandante nos sinaliza ir adiante em alto mar! Comandante  este que tem sido a ânsia de nossa alma. De nosso espírito inqueito pensante audaz coerente com a transformação constante e progressiva da vida , criativo por isso mesmo , e tb empatico, conciliador ,afetuoso, alegre e não menos sério, respeitoso, trabalhador, persistente, esforçado,  e  responsável. Caminhemos, um pouco mais. 

(Desta vez não falei dos mortos - de zoom infinitamente no signidicado!) porque é assunto para outro texto parte deste livro-ventre. Livre.

Alessandra Espínola. 

Rio, outubro de 2021.

Sagração do agora ou diário de insinuações

 Sagração do agora ou diário de insinuações (2021)


O conforto nunca me acomodou. Por vezes, até causou irritações de mesmices nauseante e contraproducentes. . Aconchego - me nas entranhas livres de meu vente-livro. Criativa e natural e totalmente viável. Vou tomar o meu  café, contemplar as nuvens - pra onde  vão, e começarei a colher do mar conchinchas que de oitros navios virão à praia no debruar das ondinas.  Sob a face materna da lua. Como só eu sei e amo .  Tb o pai amolando as facas na chuvosa tarde do ferreiro.  Zurzir metais. 

À lembrança de meus anteriores.  Vivos, em mim, portanto. Flores e castiçais .  

Alessandra Espínola 

Rio, primeiro de novembro de 2021

Sagração do agora ou diario de insinuações. RJ/2021

 Sagração do agora ou diário de insinuações.  (2021)


Caminhando, depois de a chuva ter dado uma trégua, sinalizo mais de 10 esgotos transbordando até que parei de contar. Também ia refletindo sobre  o hades que há de abrir assim mesmo de um modo tal poético  que há quem nem vá sentir.  Só a consciência empalidecer em seu estado de comodidade. Como frutos de fantasias, óbvio.  O inusitado e  inesperado  existe. E continuei caminhando cheguei a sorrir pelo fato de que não se precisa esperar momento algum pra transformar o (meu) mundo num lugar melhor. Ah eu tenho o sossego do passaro que voa na imensidão  aprendi cada detalhe das árvores e seus apegos -raizes. No entanto, isso não me prende. Aliás  é o que me lança e destronca para longes vistas azuis.  Barro e mar. Modelagem dos instantes, sabe. Como cera que derrete na ardência da chama de uma luz. Basta estar aqui a clarear a noite sem lua. A escuridão do silêncio às buscas pelos corpos, destroços e tesouros. Continuei caminhando sem tropeços.  Devagar que é meu jeito de fazer as coisas , as  contas . Nisso não há erro. E cirúrgico o tempo-ventre é dono da morte e da vida. Da terra que molda e move. Do inferno que se abre aos imbecis. Cruéis. Imprestáveis e injustos. 

Alessandra Espínola

Rio de Janeiro, primeiro de novembro de 2021.

Cartas (RJ/2016)

 cartas


as vezes quando pronuncia a chuva nos fins de tarde venho  como se da terra fosse cheiro. venho como se fosse temporal guardado dentro de envelope de cartas dentro das gavetas de antigas casas abandonadas das olarias.

é como se levantasse a infância cheia de poeira e se sacudisse como faz um cão ao tomar banho ao sol. como faz um passarinho depois de banho de chuva na flor.

eu queria mesmo ter ficado tempo contigo na rua que ainda era de chão vermelho, lama quando molhava meu pé grande e plano parecia voar no escorregadio tempo de crescer em carne e sonho. 

eu queria ter vivido contigo e caminhado a infância em se perder de vista olhando o pôr do sol. ou ter sido tua irmã. dormido contigo as noites insones de dores que a vida metia em mim. queria ter virado adolescente sob teu olhar, ficado mocinha às horas de teu sorriso. nossas descobertas em contemplação de apenas ser. como as nuvens feito véus abrem um extasiado céu azul. sem lágrimas aranhando a garganta embargando minha voz tropeçando minha fala e teria engolido menos choro, contigo  eu teria vivido mais. te entregado meus sorrisos mais gostosamente, ter visto teu sorrir de molhar o meu olhar em face de amanhecer. queria ter colhido tuas dúvidas e abraçado teus vazios. gostaria de ter brincado contigo aquelas brincadeiras todas da meninice e contemplado teus olhos querendo voar. profusamente queria ter comemorado nossos aniversários em épocas de silêncios, riríamos a balde em soturna adulteza e escuridão das gentes. ah, mas eu. eu andava lá pelo mundo da lua. parece até que te conheço em todos os traços e passos e dribles e viagens e claustros.

ah, mas já estou velha e minhas pálpebras se debruçam como um velho ramo de amendoeira na varandinha do tempo...quando exerço a primavera é só um modo de fazer fábula da alma.

por toda infância eu te vejo. como os frutos nasciam e caíam do pé daquela árvore em frente ao casebre de teu habitar. era perto e dentro que eu te queria.

Rio de janeiro, primavera de 2016.

Alessandra Espinola

Textos RJ/2018

 Simplicidade do Ocaso

A noite vem lentamente em tom lilás sobre o cheiro de chuva.  Contudo, minha agonia pulsa dentro da nuvem em estilhaço. E quando, distraída contemplo a lua apreendida em retalhos como um enigma, sondando o plexo aberto da noite, com seu fio de contas simples,  uma onda de búzios no lago narra sua luz como um colar de prata no peito negro e nu  do ocaso.

Alessandra Espínola

Textos (Rio/ 2018)

Ontem, à  hora crepuscular, vi a tarde pular da ponte. Alguns estilhaços estriaram de espanto meu olhar, outros atingiram meu peito de grave ternura. Quando olhei de volta para meu corpo era todo um caleidoscópio de luz.

Alessandra Espínola

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Março, 2021.

 Porque a rosa é um gesto. 

Não há nada que impeça a flor de ser flor.  Que floresça na primavera o que há de florescer. Os inícios são sempre resultados tb de fins.  Seja qual flor. E o que vier eu topo. Sou do tipo que subiu a montanha e sabe a vertigem do topo. Daquele topo que é só meu. Porque pode não ser o seu. Nada é pequeno quando a alma é o Todo.

Vem , nova vida , novo começo com todos os requebrantes desafios. Sou bruta flor cada dia. E meus espinhos são às avessas. 💜☕

Alessandra Espinola 

Rio, março de 2021.

Marco, 2021.

 Todos os dias no caminho me encontram as pequenas coisas. A florzinha no meio do mato. No asfalto, no meio fio. As miudezas me fazem faltam. Eu as preenchi com meu olhar. Não há vazio que eu não transborde. Tenho saudades da terra e foi tanta falta de chão que desabotoei minha sandália e fui de pé em pé num caminho sem vidros sem óleos sem lixos que andei descalça um trechinho só.  Como quem se despe para a vida que todo dia se desvela pra mim e me chama em silêncio de luz, cor e caminho para algo maior, desse jeito mesmo, no menor dos detalhes, quase invisível aos olhos , sim a vida me poesia todo dia a alma. E eu não tô nem aí se quando vejo a natrueza é nela que me sou. E me desbordo. É ela que muito sou. Crua. Simples e perene.

Alessandra Espinola 

Rio, março de 2021.

Maio , 2021.

 O espírito da terra desperto. A criatura e o olhar do criador são o todo uma coisa una. O ventre recebendo o som do silêncio a esfera elíptica luminosa do Espírito. A brisa tocando o cálice da sensibilidade. Estar na pele do inacessível.  As partes que não se vêem costumam estar inteiras ali no instante em que se respira e contempla, no instante de todo tempo mutável . Tudo em seu desenvolvimento mais amplo há de se morrer inteiramente para que a cada semente tb plenamente renasça e cresça por dentro o que haverá de ser compartilhado pra fora e com todos. A vida em seus mistérios tem a simplicidade e força de chuva e chão e o sonho em direção ao céu. Cultivado diariamente num trabalho incansável de quem sabe o trocar de peles e o deitar à fonte inesgotável da vida.  O fogo é a flor no coração do ventre onde se encineram as memórias e as curas de todos aqueles que brotam na lembrança de um novo membro que nasce.  A paz se deita no verde e a chuva rega de esperança um novo tempo de recomeços e renascimentos de tudo o que se gestava e esperava para nascer. Bom dia pra voce também!

Alessandra Espinola.

Agosto, 2020.

 Atravessar o próprio corpo. Como um rasgar -se, laminar o peito, Ir às vias de fato de meu labirinto. O submundo q ha em mim. Desativar as bombas e respirar toda pólvora do paiol. Acender a chama e atear fogo. Consumir-se de uma vez. Assim sou. Luz e sombra. Luz demais em minha própria escuridão lodosa e movediça.. secar até o pó dos séculos.  Amém.  Não há demônio pior que eu. Meu peito aberto de sol e meu olhar de lua mas ascendo é no topo do Coração! Alcanço o centro de mim e me ponho de pé e cabeça no horizonte que me levanta em estado de fiel da balança.  Eis minha galáxia!

Alessandra Espínola 

Rio, agosto de 2020.

Agosto, 2020.

 Aprendo o caos. Apreendo muito a parte sensível de cada ser. De cada rompimento. Dos cortes abruptos sem anestesia. Das partidas sem adeus. De tudo o que me penetra inda que indo e findo, tudo que toca e cava, desenterra da cova (o som d')a flauta. Concedo e permito à alma a transformação pelo afeto, pelo fundo, pela raiz, pelo fio do labirinto de creta, pelo desmanche do feto, pelo labor ad eternum , pela bolsa escrotal e pelos berço uteral e pelos umbigos enterrados e pelas bacias de sangue e gene, pelos brancos panos molhados da loucura, apreendo as ervas e o fumo e o sal. Aprendo pela dor e pelo amor e por todas as tentativas de dizer e pelo não dito...aprendo.

O caos me ensina novas maneiras de ser-estar no mundo. Um estado camaleonico de deserto.

Rio, agosto de 2020.

Alessandra Espínola

Agosto, 2020.

 O não poético também habita o meu coração. O não poético me tece partes do todo. Partícipe de alinhavos do grande caos onde volta e meia a vida me põe a brincar e aprender de cai não cai. O caos me revela renascida. Rediviva de tempos em tempos as asas se levantam das cinzas. Sou só vôo solo...

Alessandra Espínola 

Rio, Agosto de 2020.

Agosto, 2020.

 O não poético também habita o meu coração. O não poético me tece partes do todo. Partícipe de alinhavos do grande caos onde volta e meia a vida me põe a brincar e aprender de cai não cai. O caos me revela renascida. Rediviva de tempos em tempos as asas se levantam das cinzas. Sou só vôo solo...

Alessandra Espínola 

Rio, Agosto de 2020.

Agosto, 2020.

Quando era "petite " (gosto dessa palavra petite pq me lembra apetite), eu trabalhava com pai quebrando pedras e às  vezes eu cansava do martelo e das outras ferramentas que usava que esqueci os nomes, era um martelao com ferro quadrado grande na ponta, sabe, aquilo pesa viu! E daí que eu pegava outra pedra e batia numa outra pedra. Era assim pedra com pedra se chocando, era um outro som que fazia quando era martelo , pedra com pedra parecia que tinha agua ou ar dentro , sabe? e tinha uma coisa que nunca mais eu esqueço na vida...e que eu tinha era muito gosto ! Era ver aquelas faíscas de luzes e fogo saindo do choque das pedras. Pois eu não sabia que ia acontecer aquilo.  Não foi pra fazer aquela coisa bonita sair assim e aparecer nos ares que eu quebrava pedra... tanto que tinha umas pedras que eu punha na boca... ficava chupando de fome.. salivando . Quando eu tirava da boca a pedra toda lisinha e limada. A pedra-polvora-bala dinamite que saía de dentro de mim. Eu acho que eu paria bebês de pedra. Ou então que era. Pepitas de diamantes e rubis. Jazidas... Vai vendo Felix! Eu canto a pedra desde petite...era mesmo assim desde os 5 anos. E eu levava café pro pai. E desde sempre tb que tenho gosto por café.  A mãe preparava. E eu ficava lá sentada numa pedra maior quebrando outras pedras e tantas. À  frente num morro tinha uma pedreira que explodia tudo. Era mais fácil e eu tinha sonho de ir lá.  E só ouvia os estrondos. E achava tudo aquilo bonito e o pai ali suado e eu descabelada e sem banho. E era bom. E tantas cores as pedras. E eu não entendia pq quebrar pedra se o mundo levou tanto tempo pra juntar. Se tudo era grande pq devia deixar pequeno. O pai dizia que era pra fazer casa. Tudo ele colocava e misturava pedras. E ficava tudo forte. Era pedra pra tudo que era lado. E tinha tanto bicho .. tanto que eu era picada de monte de pequemos venenos e eu acho que pai me punha ali pra eu pensar que brincava de menina-lagarto e fazer salamandrices. Mas só que não.  Era fogo! 

Alessandra Espínola 
Rio, agosto de 2020.

Agosto 2020.

 As vezes, evito escrever coisinhas aqui no "feedboock" q é pra num chocar tanto. Que choque ninguém gosta né. Pq eu num dou aqueles choques de 110 w não.  Pq esses tu fica agarrado e não sai do lugar que nem pisca. Parece que tá tomando eletrochoque no hospício.  Já levou choquinho de louco? Pq ainda tem viu! Gosto de dar aqueles de, no minimo, 220 w que é pra tu tomar um bem eletrizante e ir parar longe  (pq é pra frente q se anda e dançar bonito na vida) e acordar. Pq aqui na maioria " das vez" é só choquinho tipo cócegas.  Paralizante. Tipo treinamento. Q o povo dá. Pimenta no spary. Tem graça??!!

Eu hen. 

"Tô me preparando pra quando o carnaval chegar" nos 220w. Refrescancia no cocoruto vai ser.

*trecho curto da música do  chico b.

Alessandra Espínola 

Rio, agosto de 2020.

Agosto, 2020.

 Lua cheia.  Eclipse. É bom que já estou entrando nas minhas sombras. E mergulharei na escuridade de minha noite. Aprofundar a noturnez dos maremotos. A esquivança da claridade. E alinhada e imparcial encarar minha própria escuridão. Dançar  tempestuosos fluídos líquidos. Cobrir o verso da lua. Abrir o avesso até dar a luz.  E parir uma nova fase.  Um novo céu.  Um novo dia. Renascida do caos e do noturno eclipse. Expor-me a mim mesma,  minha nudez total. 

Alessandra Espinola

Agosto, 2020.

 Me impressiona quando me olho no espelho. 

Tudo é uma síntese - sem fim. O dia me atravessa como um gato que passa em meu caminho.  Sutil desperto ágil e sereno.  O dia se move como um haicai no galho da árvore.  Se equilibra entre objetividade e leveza na ponta bem lá em cima da copa do abacateiro. E no outro lado se equilibra um passarinho com seu vôo parado bicando a água com açúcar na janela do vizinho que ele colocou pra enfeitar o cortiço. 

E eu me assanho toda quando os morcegos ficam voejando na janela à noite.  Acho graça e beleza. Aqui todos bebem da mesma água. É uma maré de gentes que passa por aqui. Um transito interminável a vida. 

Rio, agosto de 2020.

Alessandra Espínola

Agosto, 2020.

 O milagre acontece nesta noite de domingo : o silêncio aporta no cais. 

As ondas se foram em círculos concêntricos e o espelho das águas me revela que "como é em cima é embaixo".  

A imagem igualzinha refletida no espelho dos olhos sob a suave luz da lua.

É um milagre a paz do silêncio neste antigo cortiço do subúrbio do Rio. Eu que já não esperava uma noite calma nesta altura da vida sou pega de surpresa pela quietude dos séculos. 

Amém 

Alessandra Espínola 

Rio, ago de 2020.

Marco, 2020.

 Fragmentos (escritos da queda de uma folha do galho até o chão.  Enquanto a queda. Reflexão)


Ah se tu soubesses de nuvens. E que já estou nítida no poema e narrei a travessia da lágrima feito pingente pendurado no peito. Me fiz poeta em íntimo gozo das palavras tão chulas tão cruas tão chão. Palavras que casam com boca. Goela. E gutura. Tu criança, brincava nos arco íris perecíveis do tempo.  Demorei me terrena. E na volúpia da pena cavalgo o dorso da morte como fazem os homens sobre seus cavalos e no mais veloz galope encerro o ciclo das mulheres fortes que habitavam o Tejo o pegajoso brejo o terreiro e os quintais. Desprendo-me da tripa de vida e uno me ao mosaico de Lua e Sol.

*

A solidão é tanta que ando falando com robôs. E os extras.

*

Reconhecer no dia 

 azul

 sol

 céu 

 chão 

 e o lixo espalhado

 nas ruas

*

Respirar as manhãs 

Com toda a vontade de sumir.

Ficar.

*

No banco da praça 

O sol e a certeza do incerto. abismo . nada .

*

Verdade seja dita.

Eu não minto. 

Sou o que não se pode acreditar  

*

As vezes é sem querer que a gente se esbarra.

*

Sonhei. E não tive dúvida que tudo era realidade. 

*

A verdade 

Sobre a mesa

Feito uma adaga

*

Danço com o desconhecido. 

E amo. E ele me conduz nessa dança linda da vida.

*

E eu vou dançar até quando deus quiser.

*

Quem finge demência é porque é demente. 

*

chuva de outono

manhã

de calmaria 

*

asas molhadas

chuva de outono

pousa na janela

*

a noite desce -

manto de seda e sereno

*

O verdadeiro amor e coragem é mudar a si próprio. 

*

Quando se tem amor se chega em qualquer lugar. 

*

As vezes vejo as pessoas de máscara e lembro do filme 

"o silencio dos inocentes". 

Que deus nos sacuda! *

(Guimaraes Rosa)*

*

ouço crianças 

na tarde 

Luz entra pela janela

E põe em negrito os títulos dos livros na estante.

*

Da minha janela

Vejo várias janelas

E um céu aberto

*

O sol vai se pondo

como condor

Indo além

*

Poeira deixa oco no ar. 

*

Sempre tem uma goteira

Sempre tem um buraco

Sempre uma lâmpada queimada

Sempre tem uma casa

Muito engraçada. 


Rio , março de 2020. 

Alessandra Espínola

Agosto, 2021.

 26 de agosto se 2021. Rio de Janeiro. 

Agosto é silencioso como o agasalhar de jornais o fruto o grito o urro.  Encalda-lo. Sempre tem essa  véspera de morrimentos. Começou cedo isso,  lá atrás com a vovó.  Foi se morrendo uma por uma , aos poucos... depois outra e mais outra e ainda outra depois. Ensinamentos de morrer.  Ir. Partir.  

Sim, aprender a chegar. Ficar. Pôr em banho em maria e espera, sim!?

O sol já vem chegando.  Mais cedo e esperto nas latrinas da cidade.  Ah eu quis dizer vitrais da cidade. Tudo brilha e tem furta cor. É só olhar com mais atenção que tu vê. 

Como a capa das asas das moscas verdes.  As casas recendem a poeira de antigos gestos.  A mancha na parede das mãos.  Das costas das cabeças encostadas.  A sombra nos espreita alerta... é dia ! Nos relembra a luz na fresta da porta de vidro quebrado. Um pássaro insinua uma salsa sobre o galho de romã.  Por vezes, a vida não tem a coerência e a linearidade que insiste o glossário do tempo de vida descendo ladeira abaixo. 

Alessandra Espínola 

Rio, inverno de 2021.

Agosto, 2021

 25 de agosto de 2021.

Rio de Janeiro. 

Acordei cedo. Estava mal disposta. Coloquei algumas palavras na boca pra despertar e me sentir melhor. Esperei o tempo dos vocábulos se desmancharem na língua.  E , surtir efeito. 

Levantei pastosa e efêmera.  Volátil como a lua.  Cheia de orvalho como as folhas das plantas na varanda. 

Alessandra Espínola 

Rio, inverno de 2021.

...dá-me o teu tempo comigo, comunga de teu fluxo, de tuas dores, traumas, belezas, virtudes, caminhemos o caminho, o passo sem pressa, sem ...