segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Agosto, 2020.

Quando era "petite " (gosto dessa palavra petite pq me lembra apetite), eu trabalhava com pai quebrando pedras e às  vezes eu cansava do martelo e das outras ferramentas que usava que esqueci os nomes, era um martelao com ferro quadrado grande na ponta, sabe, aquilo pesa viu! E daí que eu pegava outra pedra e batia numa outra pedra. Era assim pedra com pedra se chocando, era um outro som que fazia quando era martelo , pedra com pedra parecia que tinha agua ou ar dentro , sabe? e tinha uma coisa que nunca mais eu esqueço na vida...e que eu tinha era muito gosto ! Era ver aquelas faíscas de luzes e fogo saindo do choque das pedras. Pois eu não sabia que ia acontecer aquilo.  Não foi pra fazer aquela coisa bonita sair assim e aparecer nos ares que eu quebrava pedra... tanto que tinha umas pedras que eu punha na boca... ficava chupando de fome.. salivando . Quando eu tirava da boca a pedra toda lisinha e limada. A pedra-polvora-bala dinamite que saía de dentro de mim. Eu acho que eu paria bebês de pedra. Ou então que era. Pepitas de diamantes e rubis. Jazidas... Vai vendo Felix! Eu canto a pedra desde petite...era mesmo assim desde os 5 anos. E eu levava café pro pai. E desde sempre tb que tenho gosto por café.  A mãe preparava. E eu ficava lá sentada numa pedra maior quebrando outras pedras e tantas. À  frente num morro tinha uma pedreira que explodia tudo. Era mais fácil e eu tinha sonho de ir lá.  E só ouvia os estrondos. E achava tudo aquilo bonito e o pai ali suado e eu descabelada e sem banho. E era bom. E tantas cores as pedras. E eu não entendia pq quebrar pedra se o mundo levou tanto tempo pra juntar. Se tudo era grande pq devia deixar pequeno. O pai dizia que era pra fazer casa. Tudo ele colocava e misturava pedras. E ficava tudo forte. Era pedra pra tudo que era lado. E tinha tanto bicho .. tanto que eu era picada de monte de pequemos venenos e eu acho que pai me punha ali pra eu pensar que brincava de menina-lagarto e fazer salamandrices. Mas só que não.  Era fogo! 

Alessandra Espínola 
Rio, agosto de 2020.

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