Fragmentos (escritos da queda de uma folha do galho até o chão. Enquanto a queda. Reflexão)
Ah se tu soubesses de nuvens. E que já estou nítida no poema e narrei a travessia da lágrima feito pingente pendurado no peito. Me fiz poeta em íntimo gozo das palavras tão chulas tão cruas tão chão. Palavras que casam com boca. Goela. E gutura. Tu criança, brincava nos arco íris perecíveis do tempo. Demorei me terrena. E na volúpia da pena cavalgo o dorso da morte como fazem os homens sobre seus cavalos e no mais veloz galope encerro o ciclo das mulheres fortes que habitavam o Tejo o pegajoso brejo o terreiro e os quintais. Desprendo-me da tripa de vida e uno me ao mosaico de Lua e Sol.
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A solidão é tanta que ando falando com robôs. E os extras.
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Reconhecer no dia
azul
sol
céu
chão
e o lixo espalhado
nas ruas
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Respirar as manhãs
Com toda a vontade de sumir.
Ficar.
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No banco da praça
O sol e a certeza do incerto. abismo . nada .
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Verdade seja dita.
Eu não minto.
Sou o que não se pode acreditar
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As vezes é sem querer que a gente se esbarra.
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Sonhei. E não tive dúvida que tudo era realidade.
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A verdade
Sobre a mesa
Feito uma adaga
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Danço com o desconhecido.
E amo. E ele me conduz nessa dança linda da vida.
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E eu vou dançar até quando deus quiser.
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Quem finge demência é porque é demente.
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chuva de outono
manhã
de calmaria
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asas molhadas
chuva de outono
pousa na janela
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a noite desce -
manto de seda e sereno
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O verdadeiro amor e coragem é mudar a si próprio.
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Quando se tem amor se chega em qualquer lugar.
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As vezes vejo as pessoas de máscara e lembro do filme
"o silencio dos inocentes".
Que deus nos sacuda! *
(Guimaraes Rosa)*
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ouço crianças
na tarde
Luz entra pela janela
E põe em negrito os títulos dos livros na estante.
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Da minha janela
Vejo várias janelas
E um céu aberto
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O sol vai se pondo
como condor
Indo além
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Poeira deixa oco no ar.
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Sempre tem uma goteira
Sempre tem um buraco
Sempre uma lâmpada queimada
Sempre tem uma casa
Muito engraçada.
Rio , março de 2020.
Alessandra Espínola