sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Cartas....

 [Da série Cartas:]

Quando esboçava uma despedida, os olhos marejaram. Quando mais uma vez tive de cortar o cordão umbilical entre ti e tua mãe.  Eu não saberia quem ia viver. Não tive e nem tenho este direito.  Era um dever apenas fazê-lo senão ambos poderiam ainda estar em apuros. Os dois quase morreram. A mãe sangrava em demasia e tu arroxeava por outra via..  Não poderia correr o risco de perder os dois, assim. Não pude chorar. Na verdade, na hora em que tu sangrava já a mãe cansada tive de correr. Vai já sabendo desde nascer que a vida no máximo coloca várias possibilidades e às vezes não dá inúmeras opções; somente duas. Tu escolhes. Nasceu! E agora vivo escolhes tb. Mas o que querias dizer é que chorei depois. Quando esbocava uma despedida. Fiquei feliz de os dois sairem vivos desta. Remascimento eu chamo a isto. Você e tua mãe.  A tesoura parecia cega a mastigar as coisas. Como uma boca viva e faminta a vida. Mas é só o que parece.  Na hora do corte sempre é afiada a lâmina que separa. Que abre espaço.  Que coatura outraa texturas e tessituras de vida. Mas separa ajuntando ,percebe? Não, não penses que é abandono ou coisa parecida que não é.  Sei que não adianta te dizer isto porque o que tu sentes é o que o conta.  Na verdade, me vou para que todos possam expandir. Inclusive tu, e por isto mesmo estive todo tempo contigo. Ate o máximo que pude. Agora chegou a hora. Entendo que o que sentes é de tal modo angustiante que te lembras da mãe ausente de tanto que trabalhava para poder sustentar tu é teus irmãos.  Antes e depois que tu nasceste. Mas pense que eu... Eu em meu caminho de seguir não fui menos só que tu. E ainda sigo no ermo longo e longe do horizonte.  Sumindo fininho na estrada tal qual estrangeira. Estrangeira esperança incompreensível... sigo, pois.

Da série: cartas

Alessandra Espínola

Chega a manhã..

 Chega a manhã de dezembro. O sol entra e se deita em cheio no quartinho. A gata dorme ao lado e ronca. A manhã é suave. Os passarinhos arrulham nas árvores em nota ré. O galo continua contando. Enquanto a do luz Sol vai tomando outros espaços no morro. O silêncio me expande. O marulhar das águas do leito da cachoeira coadunam com o piar dos pássaros. Todas as razões são desnecessárias  quando a alegria doce e suave tomam a direção da vida. 

Alessandra Espínola 

(Das minudências)

Rio de Janeiro, dezembro de 2021.

Doa textos não revisados

 Dos textos não revisados (como tem sido)

Enquanto lavo a louça.


Estou indo de volta pra casa. Mais merecimento que se tenha de nada adianta. E não me prende. E tá tudo bem. Por que ainda somos mais que isso que temos direito e merecimento. O valor de uma pessoa não se restringe ao merecimento. Um ser está ainda mais amplificado e além que uma ou outra coisa. Porque o valor de um ser é tão alto que não tem coisa ou cifrão que pague. Embora sejam coisas trivias(ou essenciais- basilares) das coisas se necessita pera se viver enquanto corpo é ser no tempo e no espaço e em sociedade. O Rio de Janeiro   embora seja uma cidade que eu ame com as entranhas está sempre em movimento de regurgitação,  me parindo de tempos em tempos. Uma cidade fantasma.  Agradeço a este ventre que me deu a capacidade e habilidades de lidar com o caos e a instabilidade. O ventre e a seiva.  O caminho para outras paragens, litorais, e ao estrangeiro.  A criatividade a todo vapor. Como força motriz. Todas as ferramentas dispostas. A bancada toda para mim herdada por anos de cuida do serviço e trabalho diário intenso e externo. Contínuo constructo da vida.  A grande diferença é que as uso com ética empatia compaixão responsabilidade e prudência  que é coisa de dar em doido. Não brinco. Deu-me a chance de errar continuamente em busca de novas soluções e descobertas com feitios de liberdade cuja maioria se ofende e se incomoda os modos novos de olhar e entender e novas perspectivas e pontos de vistas se torna incompreensível. Liberdade não tem fronteiras Tanto que , por exemplo, qualquer pedaço de chão de raiz de tronco de rio de ar de voo de fronteira me sinto como se eu mesma fosse a coisa também tudo isto.  É como ser a roda que se move e move o carro  no chão e o chão e o vento e o motor e as pedras que voam na tração.  Sim ser tudo e o todo.  O mundo vê uma pessoa como algo, como um rótulo, como um nome de profissão cargo idade sobrenome número e entendemos ser tudo isto e mais infinitamente mais. Olhar além do que se possa parecer requer ao menos despojamento de si mesmo. Um despir-se. Continuo de  peles veus cascos e mascaras. E é preciso coragem para estar diante do outro. Aquele que nos diz tanto sobre nos mesmos. 

Em direção ao Sol nascente.

Dos textos de " enquanto lavo a louça " 

Rio de Janeiro, primavera de 2020.

Alessandra Espínola

Texto não revisado

 Texto ainda não revisado  (como tem sido)

Do porque as coisas (além de tantas variantes) demoram a se resolver.  Primeiro porque não há perguntas e respostas. Reflexões que saiam do comum estado de se fazer as coisas imitando apenas os modelos ditos de poder.  Mas porque há mandos. Há uma dificuldade em se entender que ninguém manda em ninguém.  Que nada e ninguém controla ninguém e nada. Verbos à força ou jeitos ja tao claros de uso da força  (geralmente estúpida) e fazer com que o resultado seja exatmente o oposto.  Querer mandar ou forçar de qualquer modo que seja que alguém é uma agressão. Isando a força que fique , faça, seja , coma, compre  ou qualquer tipo de linguagem tipicamente incipiente descria, destrói e afasta. E, por isto mesmo a demora em resolver coisas , demonstrando autoritário aprisionamento  e total falta de abertura à escuta e dialógica. Diálogo criativo trazendo respostas mais favoráveis à todos os lados. Apenas tenho observado- de novo - a reprodução de falas e ações em que se parecem  papagaios e hienas que não falo aqui os motivos. Mas tudo tem seu destino e benefício no mundo. Dependendo do que se faz diante destes. Aquele que geralmente deseja se impor já se coloca em tropeço de si mesmo. Afundando seu barco.. Por si só sai de cena ou apaga os refletores para si. Ou se coloca em desespero, no mínimo.  A tentativa de se salvar qdo na verdade se afoga ainda mais.

E convida o caos negativo a se instalar.  As coisas e pessoas não são impostas. E poder esta muito longe do qie se pensa ser. Que dirá usá-lo.  Cada um se põe do jeito e da forma como quiser, como consegue de acordo consigo mesmo, com seu ser que apenas flui. No entanto, pouco se tem a consciência de que os resultados se iluminam por si. Cada um come o prato que prepara. E tá tudo bem nisto. Porque de vê em quando observo o banquete diante de mim e existe então está diferença imensa ,  esta multiplicidade infinita de iguarias, seres, gostos, talheres , toalhas, pessoas a mesa. Tudo! Oferecer é, servir no sentido de dar ao outro em colaboração o que se tem e uma generosidade construtora  que deixa o encontro mais democrático livre e produtivo... e, portanto, próspero para todos de todos os lados da mesa. Quadrada retangular redonda ou mesmo na grama num piquenique ou a bordo de um avião ou no navio cruzando o Atlântico, porém ainda há os que obrigam outros a comerem os pratos que prepararam. Sem que eles mesmos não comem. Daí a ambientação seja  ela qual for muda completamente.  É preciso ter um tantinho de delicadeza, educação e olhar colaborativo e não autoritário. Só recebe sim quem respeita o não. E rudo muda o tempo de acordo como se manobra nas ondas. Os ventos tb mudam e o não pode se transformar em sim de acordo com o surfar.  De acordo com a lucidez de fazer  alguma viagem em vôo cego. Pode o delírio ocorrer em qualquer um que esta em vôo. É preciso rever os códigos para saber se continia enxergando a realidade. Afim de que não haja nem acidente comprometendo a própria vida e a vida dos demais. Voltando ao banquete....E, como eu que não quero comer um prato acabo servindo ao outro o que eu mesmo não quero e por vezes me faz mal ou abomino.  

As vezes querem dar pedras de cimento a um ourives. Estou lavando a louça.  Sob um Sol que arde no peito, amoroso, e brilhante, alegre e desejoso e tem assim uma força de vontade incalculável. E não precisa expor nada e ninguém.  Olho e vejo que nitidamente alguns momentos podem ser feitos no acolhimento dos pensamentos distintos do nosso. A conversa prolongada nas refeições podem sempre mudar. A louça usada e as escolhas - que aliás estão sempre em mudanças - não precisam ser expostas como algo negativo causando algum tipo de constrangimento a quem quer que seja. Humilhação e constrangimento ao outro tem suas consequências. É preciso bom senso e uma postura de se perguntar se "eu gostaria que fizesse , agissem ou falassem assim comigo". Uns comem com a mão outros numa etiqueta impecável baseada nos modos europeus. Outros ainda comem no sofá outros com colher. E tá tudo lindo. Compartilhar não é aproveitar para tolir, usar formas de silenciosamento através de chantagens,  mandos ou qualquer outros tipos de autoritarismo disfarçados ou com bases no desrespeito, deboche,  hostilidade, achincalhamento mínimo que seja. Seja pessoalmente ou como temos visto ate atraves das tecnológicas. Onde somente um fala e os outros como bezerros são obedientes serviçais repetindo a mesma etica nublada, fala, tom e ate palavras e gestos. Bom humor e o cômico nada tem a ver com isto. Ainda engatinhamos nas mais diversas relações desde que temos conosco mesmos, com a natureza, nas amorosas, nas sexuais, trabalhistas; nas empresas, nas instituições, na família, nos grupos,  enfim! Cada um é belamente livre tb para escolher não estar entre os que assim agem e portanto fazer escolhas melhores. As que realmente tem mais significado, sentido para  cada e que possam expandir e continuar o processo de seguir em frente cada qual na sua jornada. E no seu tempo. O fato de não se compactuar com ações que possam ser limitantes comodas ou confortáveis sempre há de levar nos além. Isto tem muito a ver tb com como eu me sinto e olho a mim e ao mundo. Se entender como sendo o todo revela como temos capacidade melhor de lidar com tudo. Se exponho o outro no que ele é livre seremos expostos no que somos preso. Aquele que já não se prende entende que é o todo.  E por isto, liberta também o outro.  O todo. 

Sim. Por vezes temos dificuldade de fazer o que fizemos ou pregamos. Faz parte e está tudo bem.  A gente continua corrigindo. Acertando a rota. E alçando vôos nos quais somente cada aeronave ou ave se esforçou diante da carta de navegação de cada um. 

Façamos boa esta viagem!

Textos aéreos: do vôo estável a turbulências.  Reflexões de quando lavando louça. 

Alessandra Espínola 

Rio de Janeiro, primavera de 2021.

Lavar a louça...

 Lavar a louça deixada em cima da pia na noite anterior, depois de ter feito a janta, uma jantinha leve como a partir de uma certa idade deve ser. Ouvindo música no radinho que ganhei com tal surpresa do vizinho do andar de cima. Tocavam músicas que me convidavam a uma dança também leve como se cozinhar fosse assim o movimento das mãos em termos de roda, ballet. Minha gata de estimação miava assim cantando e tocando em rodilhas poéticas  minhas pernas entrando portanto na roda. Era tudo muito bonito, simplicidade da minha própria  nudez. Enquanto eu fazia tudo isso acontecer tive o vislumbre de meu futuro.  Assim, cheio de beleza e paz. Embora o caos, embora as perdas, embora a lágrima e a dor. E embora a louça, posteriormente, deixada sobre a pia.Tudo era feito e refeito no cuidado amoroso com a Vida . 

Alessandra Espínola 

Rio, primavera de 2021.

Filha do fogo..

 Fragmentos:


Filha do fogo e da água.  Corpo de  barro , chuva, pedra, magma. Água pura..sangue vivo de uma terra que se ajuntou de verde vermelho branco azul amarelo brasão. Açafrão. Turquesa azul - delicadeza dos  mares nos  azulejos. O lustre. A taça.  As xícaras. Os pratinhos de pira louça porcelana desenhados à mão. Nossa senhora acesa dourada preta azulada no alpendre, iluminando o batente onde dormi toda uma vida. Dormia nos braços alvoroçados das ondas e das chuvas espumosas e intermináveis. Amanhecia como em sonho na casa de barro moldando ainda na mãos desta terra viva noventa e silenciosa como o tabaco de meu pai.  A fumaça do fogareiro, do fumo, do fogo de monturo enchendo as manhãs, o quintal , a casa, era toda eu névoa. Era toda eu casa. Quintal. E chão. Era fogo! Sob os olhos do pai-vô. Os tamancos de madeira sarandavam no chão de taco tb de madeira escurecida  brilhante e batiam como quem bate a porta das manhãs convocando a menina ao café e ao trabalho. A descoberta e_laboração de si, do mundo, da vida . Mal dava tempo de vestir, ia do jeito que estava, assim mesmo debaixo das cobertas, mas me dava sob a luz do dia descoberta. E inteira. Corria lentamente a enrodilhar os cabelos numa maçaroca só.  A " dona xepa" o pai dizia... ia descalça , pés planos pisar as pedras, a terra preta, roxa, o estrume deixado pelos cavalos que iam por lá comer capim.  Mal vestida e sem calcinha porque era chique ter calcinhas na época.. custava caro, tb ei nao gostava e metia qualquer roupa caindo do corpo. Martelo nas mãos sentava no toco de árvore  e tomava a quebrar pedras.  Juntava um monte para mistura de fazimento de casas. Revolvia a terra arrancava capins, colhia as verduras, frutas. Bertalha , subiam pelos muros, um mar de suculências , mãe ia fazer com ovos da galinha do quintal. Vó socorria nas faltas. Nos invernos que secavam tudo. Pai pegava serrote, eu segurava firme a madeira, às vezes entre as pernas agarrava como um cavalo tosco segurando a crina, a gente ia fazer apoio pra roldana, tinha corda mas corda sozinha não leva coisa a outra.  So da amarrações e nós. O balde já  tinha também.  Que eu já carregava massa de cimento, pedras e entulhos. E água.

A hora do café.  Eu subia correndo as escadas, mãe tinha já preparado quentinho adoçado, levava devagar descia os degraus e sentava na pedra com pai, a fumaça de novo subia. Era manhã ainda como uma grande peça do mosaico no teto.  E do painel da parede de meu quarto. Tomávamos em silêncio observando os detalhes despercebidos de outrora. A névoa do café, o cheiro da terra, a força sobrecomum, o Sol acendendo cedo o gosto pelos terrenos , quintais e jardins. Pelo suor sede e sangue das horas. Pelo labor! O sabor do café absorto em silêncios e reflexões, o ímpeto de levantar logo e ir ao som das tabancas do pai. A voz rude, grossa vibrando a casa. Vez em quando eu ia lá no quintal e tocava as violetas da mãe, orvalhadas de noite e lua. Algumas velhas como espumas de chuva e  mar outras novas como jovens coradas. E, por uns instantes, sentava a meio da escada e contava os degraus e o tempo que me levavam com justa medida ao pai e à mãe para que quando me chamassem eu pudesse - no tempo  mais ou menos exato e ao máximo que pudesse- atender lhes o chamado. Era bem difícil quando os dois me queriam ao mesmo tempo.  O que era engraçado é que pai dizia: "vai ajudar sua mãe " , ou ainda: " sua mãe está lhe chamando". E quando com mãe as vezes ela dizia embora me segurasse por  mais tempo em alguns momentos específicos que depois conto.  Então ela dizia:" seu pai está lhe chamando" ou " vai lá no seu e peça isto " ou ainda " vai ajudar ou cuidar ou trabalhar com seu pai". Na verdade os dois eram e são partes metades da mesma escada. Eu percorria os degraus daquela escadaria.  Que a noite ao topo eu contemplava cheia a lua, às vezes vazia ou pela metade e nas manhãs o Sol à tona, átono, às vezes esfumaçado pela névoa das montanhas. E sempre à minha cabeça de cabelos enrodilhados no topo ao meio-dia como uma superfície  de cristal, sal, trigo, neve, alva pelicula de mar. Tudo não é miragem.

(Continua no próximo...)

Alessandra Espínola 

Rio , primavera de 2021.

Brevidades

 Da série de textos em tenaz constructo: 

Pensações e brevidades (Rio. 2021)


Penso quando é tão gostoso sentir o outro tal como ele é. Mesmo o corretor do celular - errante e descorrigindo tudo o que escrevo.  Já quem me sabe de conhecer e sentir entende mesmo quando a escrita parece uma hierorafia acrobática das palavras que não disse.  A leveza do afeto , do saber a si mesmo faz com que tudo se torne desobinublado e rio como reticências afetuosas à alma.  Cada vez mais deixo -me fluir assim qual finíssima pétala tocando nas mãos nas faces e nos corações e no couro mais macio de minha gata que se enreda nos meus braços e nos entregamos apenas em ser  e sentir. A manhã de domingo nos desperta musical como o marulhar das ondinas numa lua silenciosa e cheia de raros brilhos. A caricia das águas me amenizam os cansaços dos mergulhos e do surfar as quebradas. Carícias de águas serenas visíveis ao coração.  Sentidas por quem se põe sobre a beira ouvindo o sussurro de levar adiante barco por estas  bandas do afeto e da razão. 

Alessandra Espínola 

Rio, outubro de 2021.

Sagração so agora ...

 Sagração do agora ou diário de insinuações: 

(Rio. 2021)


Para mim não há distinção de ação em relação a uma folha de alface que morre a míngua dentro de uma geladeira sem que seja para nutrição de alguém como alguém que caiu de uma passarela ou ciclovia ou ainda de um teto que cai e desaba sobre muitos por falta das  mesmas condições e tratos, reparos, e acuidade nos mais detalhados e amplos aspectos.  Isso desde a colheita, transporte, armazenamento, grandes e pequenas empresas que articulam produtos e pessoas. (Ainda toco de leve nos medicamentos vacinas todas, estados de ferrovias estruturais -geofísica e humana). Casos que tangenciam desde segurança federal a  pessoal e dos mantimentos vários e imponderáveis à vida que transportamos)- ainda não corri os minérios e a forma como isso vem sendo atropelado -, observemos com simplicidade e severidade: falta de reciclagem , reaproveitamento e desperdício ou mesmo competência de tudo o que vem antes, excesso de acumulação de vários âmbitos e sempre numa visão ainda mesquinha, punitiva, imatura narcisica egoísta,  não mudamos nossa forma de olhar e lidar com a construção de nossa vida diária particular e em sociedade como um todo de forma pública, social, ampla, global. A água que despejada potável ao nada falta nas maior parte da cidade nas grandes comunidades. Sem que estes tenham sequer para beber, cozinhar e banhar-se acarretando doenças já nas literaturas tidas como extintas como a sarna que leva no mínimo 1 ano para cura ( tendo se for o caso água e medicamentos ) imagine outras mazelas e maleitas. O chumbo e o ferro e as nojeiras que a maioria da população tem bebido para não morrerem. Mas sempre chega a hora em que tb "o camelo sente sede". Necessário e urgente repensarmos e agirmos num planejamento mais acurada sobre tais questões.  A reciclagem do lixo pesado e infinito produzido em casa familia. Por cada pessoa. Em cada instituição.  É o sentir a vida que muito me move dentro e fora de mim como ela e eu fôssemos e somos uma só vida.  

A geração tem recursos de todas as  mais inimagináveis fontes , frentes e fundos para capacidade e possibilidade  de renda justa, emprego , casa moradias,  escolas de especializações várias e multifacetada,  saúde amadurecimento da vida no Rio de Janeiro e no Brasil. Sabe, não precisamos de um novo país brasil escolas blá blá blá...precisamos de novas  formas  de lidar com o que tanto nos transborda  e temos. Novo olhar, nova escuta, novo diálogo, novo pensar,  sentir e agir. A partir desta junção de continentes que há  muito vem se amalgamando, e por  vezes sim, viemos rompendo ou sendo de tal modo covardes porque autoritários  (e isso já não funciona  mais!) Aviso aos mais cômodos navegantes. Mar silencioso tb tem seus perigosos movimentos naturais. Em prol de uma rota cujo comandante nos sinaliza ir adiante em alto mar! Comandante  este que tem sido a ânsia de nossa alma. De nosso espírito inqueito pensante audaz coerente com a transformação constante e progressiva da vida , criativo por isso mesmo , e tb empatico, conciliador ,afetuoso, alegre e não menos sério, respeitoso, trabalhador, persistente, esforçado,  e  responsável. Caminhemos, um pouco mais. 

(Desta vez não falei dos mortos - de zoom infinitamente no signidicado!) porque é assunto para outro texto parte deste livro-ventre. Livre.

Alessandra Espínola. 

Rio, outubro de 2021.

Sagração do agora

 Sagração do agora ou diário de insinuações (2021)


O conforto nunca m acomodou. Por vezes, até causou irritações de mesmices nauseante e contraproducentes. . Aconchego - me nas entranhas livres de meu ventre-livro. Criativa e natural e totalmente viável. Vou tomar o meu  café, contemplar as nuvens - pra onde  vão, e começarei a colher do mar conchinchas que de oitros navios virão à praia no debruar das ondinas.  Sob a face materna da lua. Como só eu sei e amo .  Tb o pai amolando as facas na chuvosa tarde do ferreiro.  Zurzir metais. 

À lembrança de meus anteriores.  Vivos, em mim, portanto. Flores e castiçais .  


Alessandra Espínola 

Rio, primeiro de novembro de 2021

Sagração do agora

 Sagração do agora ou diário de insinuações.  (2021)


Caminhando, depois de a chuva ter dado uma trégua, sinalizo mais de 10 esgotos transbordando até que parei de contar. Também ia refletindo sobre  o hades que há de abrir assim mesmo de um modo tal poético  que há quem nem vá sentir.  Só a consciência empalidecer em seu estado de comodidade. Como frutos de fantasias, óbvio.  O inusitado e  inesperado  existe. E continuei caminhando cheguei a sorrir pelo fato de que não se precisa esperar momento algum pra transformar o (meu) mundo num lugar melhor. Ah eu tenho o sossego do passaro que voa na imensidão  aprendi cada detalhe das árvores e seus apegos -raizes. No entanto, isso não me prende. Aliás  é o que me lança e destronca para longes vistas azuis.  Barro e mar. Modelagem dos instantes, sabe. Como cera que derrete na ardência da chama de uma luz. Basta estar aqui a clarear a noite sem lua. A escuridão do silêncio às buscas pelos corpos, destroços e tesouros. Continuei caminhando sem tropeços.  Devagar que é meu jeito de fazer as coisas , as  contas . Nisso não há erro. E cirúrgico o tempo-ventre é dono da morte e da vida. Da terra que molda e move. Do inferno que se abre aos imbecis. Cruéis. Imprestáveis e injustos. 

Alessandra Espínola

Rio de Janeiro, primeiro de novembro de 2021.

Tarde de domingo

 Tarde de domingo

Antes de me deitar um tanto inclinada como fazem os velhos depois do almoço, olhei pela janela e contemplei ao longe palavras como nuvems sobre as águas da baía de Guanabara. Mas é de silêncio que vou decantando e depurando o que ainda não sei desenhar ou dizer. É como a ave que sobrevooa querendo pousar. Nas palavras guardo silêncios. Talvez. O abraço em contorno no nada. 

O que eu queria dizer é que tem épocas em que as águas mansas turvas lodosas se  mantém como que mulher de meia  idade. Aquelas que como eu caminha de pés no chão, a lata d'água na cabeça, mãos em cuia pra colher a chuva.  Tentei ouvir o marulho das palavras, a linguagem das chuvas. O balanço aqui dentro das águas.  O comunicado dos rios.  Eu vou me deitar ao som do irbiri e búzios. 


Vizinhos chamando Miguel ! Miguel! Miguel! É uma criança que me sorri toda vez que me encontra  e os seus amiguinhos perguntaram a ele  o que eu era dele pra tanta conversa e afeto. Ele então respondeu a todos na rua: é minha amiga ! Meu coração se encheu d'água por um ser de tão tenra idade se  meter na vida com tal qualidade de comprometimento me despertou um tempo que se descortina - pelo menoa para mim -, em meio a um mundo descartável e desamoroso. Miguel me vê e se me encontra dá o valor de nossa existência a cada travessia e encruzilhada.  Eu tenho essa mania na vida de tempos disjuntos.  No entanto, o tempo é a ágora de todos os agoras construídos por mim a cada encontro e a cada despedida.  Como se Miguel tivesse até nascido antes de mim. Ele parece aqueles pais que ninguém dá sossego, chamando Miguel Miguel Miguel.  Então eu penso, meu deus! Porque não deixam Miguel em paz. O olhar de Miguel parece saber das linhas  do coração. E quando os olhos dele pousam nos meus eu sinto que ele vê o meu coração e quando alguém raramente vê o meu coração eu me consterno toda numa quase timidez. Nunca vi Miguel chorar. Eu escuto e ausculto o choro dele como fosse no quarto ao lado ou na rua voltando pra casa.  Ele encara tudo como que  encarnado  em si um anjo. Às vezes, Miguel me empresta as suas asas ao meu coração e ele me transforma na menina que voa. Será ele me cobre com suas asas... (?) Sem distinção de bem  mal aprendo a ser pétala  pássaro nuvem e voo acima das nuvens. Nos olhos de Miguel eu posso ser eu. E isso, por vezes, só uma criança especial é capaz de tanta grandeza. 

Miguel, dos meus cansaços tu me nina !

Agora sim posso me deitar e  sonhar. Adormecer na lembrança do teu olhar cujos sentimentos criados por ti me sublimam e me trazem luz ao coração como se acendessem vaga lumes de  esperanças em algumas sombras de mim. Nesta tarde de domingo é Miguel quem, no silencio,  pousa suas asas-olhar-palavras em mim. 

Alessandra Espínola 

Rio, novembro de  2021.

Fragmento

 Chove. E vem no som da chuva os passos de minha mãe. Hoje, quando no meio da floresta replantando guapuruvus, ipês e pau brasil ouço a música  das pegadas úmidas tocando minhas mãos enquanto mergulho no berço da terra  as mudas em cuias com a mesma medida de  quem é parteira e tem a morte e a vida  nas mãos desde os tempos imemoriais. Ah as raízes expostas - eu gosto !-algumas já habituadas para fora outras cavadas até o profundo da terra onde eu gosto mesmo de ir em afundar  as mãos penetrar e ir de barro até o sabugo das unhas...Subir pelo caule podar . Retirar as lianas.  Desafogar dos capins. Puxados pela raiz como que cabeças nascidas ao mundo. Não, os capins não são de todo ruins.  Eles cumprem em si sua  benévola natureza sustentando a terra de desmoronamentos na falta de trabalho produtivido (dos homens) na flora nativa. Até rimou sem querer. No lugar dos capins vão as mudas nativas que em si tem a poesia da vida e do tempo infinitos. Depois de alguns momentos, parada olhando a ciranda que em torno de mim é feita, sorrio levemente , o cheiro de lama e terra molhada e  seixos umidos,  escorregadios  e folhas macias já deitadas pelo tempo me tomam no colo e me embalam numa cantiga materna . Chove. E, no lago à frente, das fundas águas surge uma  garça branca livida  e luminosa, pousa na pedra e abre as asas com toda leveza de uma dança se aproxima de mim como que  num milagre, o bico mostrando o caminho a frente e logo levanta voo de novo. E,  some entre as folhagens daquela parte lodosa da floresta. Debaixo de suas águas estarei segura, e depois no voo de minhas próprias asas...oh deusa senhora das águas! Voltam, pois as graças e as garças!

Rio de Janeiro, novembro de 2021.

Alessandra Espínola

Diario de insinuações ou sagração so agora

 [Dário de insinuações ou Sagração do agora]


É  manhã de domingo. O Sol! Ah o Sol com tanta elegancia e simplicidade me envolvendo toda na casa. Como o renascimento coroando meu ventre. À janela o vento acaricia meus cabelos tão suave que a lágrima me cresce como flor nos cabelos. As montanhas em comunhão com o céu .  Aqui onde a nuvem  alva como uma cabeça branca se inclina e me beija o topo da cabeça e as mãos .  Sim, as mãos nas quais ergo como num gesto delicado de balet. Pra quê ? Imagina...  Meu coração se expande como um músculo que cresce trabalhado, talhado, modelado, é  em acabamento desde os tempos em que a terra pulsava magma chama fonte e o fogo de eras . Domingo! E de novo Miguel, agora mais um me apareceu, Samuel. Sim Samuel.  Como dois irmãos ou amigos que vem ao redor e à minha porta e cujo som e cores e sensação magníficas  de seus nomes me harmonizam e presenteiam a minha casa sem invadir. Dando me o inenarrável.  Curioso o fato de irem chegando assim como uma comitiva, uma surpresa com a  qual meu sorriso se desenha na face. Como crianças anjos que vão chegando como quem brincam por todos os lugares onde passei. E dizem.a mim que estivera em toda caminhada. Eles me encontram.  Na solitude magnífica de mim e de meu lar eles vem e levam as sombras num gesto de presença de luminosidade própria. Quando possa algum momento em ir em profundidades densa cujos odores me tonteam, cuja atrocidades me processam em morrimentos.  De lá eu volto com essa espécie de jóias brilhantes. Algo ainda mais valoroso que isso. Entes áureos. Não sei nomear tão graça indescritível. Fico pensando nestas palavras que como pássaros  e silêncios me sustentam a subida a  viagem a caminhada. O coração que montanhoso eu mesma escalo. 


O Gabriel me apareceu outro dia uma vez . Embora este venha desde a minha tenra infância , estes dias rstava mais ao largo dando a frente ao outros dois, e me olhou terno e suave , tênue luminoso em tom pastel cintilante. ( nos olhamos)como quem diz que também veio e não me deixou e logo vai falar comigo a seu modo que o conheço um pouquinho de nada. Assim com mais tempo, porque ele é! Por sustentar sua presença no tempo e entre todas as coisas por mais absurdas que sejam mas tb mais lindas que se possa experienciar e entender.  Viver e cumprir a promessa de vida que eu mesma me fiz a mim. Que aliás esta é a única promessa maior que habita em nós.  Em toda vida na terra. 

Rio, 15 de novembro de 2021.

Alessandra Espínola

Fragmentos

 Fragmentos do instante: 

O que todo mundo já sabe e  sempre soube é que a  qualidade e   progresso da educação brasileira escolar não está na quantidade de  tempo que estudantes ficam dentro da escola, socados ali como sabe-se  lá o que. Mas na qualidade e  na forma como se aprende. Por isso mesmo há tanta fuga e falta porque talvez não haja maior bullying que  esse: aprisionar alunos como fossem o quê! Ou mesmo enterra-los ali tornando-os alienados  e zumbis na e da sociedade  (da  familia, da convivência humana e suprimindo possibilidade de autoconhecimento, autorespomsabilidade , capacidade de escolha e decisão, aprender coisas como conversar, diálogar , saber como fazer? Fazer não é!  Saber (exercitar) deixo claro aqui que saber é fazer,  viver enfim sobre a multimensionalisade do SER enquanto aprendiz e mestre de si - crianças e adolescentes precisam aprender a serem vistos como possíveis e futuros adultos ) são  alienados  na e da própria  vida de agora e  futura , de suas capacidades e desafios a serem trabalhados. Aleijados e ausentes para que óbvio sejam considerados todos como incapazes e dependentes e recebam moletas e drogas (da zoom no significado) dos que governam e de todos os outros que representam autoridade na vida social.  Isso é um soco na gestação e gestão  de nossa educação brasileira. Na barriga da  patria amada , no ventre desta terra brasileira.

Fosse mesmo uma educação de qualidade não teriamos a  quantidade de horas aumentada (como sistema de fábricas onde se gera lucro para  os donos dessa porra toda?) Alunos em sendo números  sem a qualificação e especificidades de  oficios por exemplo, e de ter opções de todas as artes e filosofias , tecnologias e  linguagens possíveis para o total ai sim integral desenvolvimento de crianças e adolescentes no processo (tempo espaço) quando  se ficam na escola. Horário integral, que se diz não é senão a desintegração do ser em obstrução covarde , ignorante e miserável ainda mais com o núcleo familiar  menos favorecido .  Sem contar a  desintegração que toda essa estrutura fracassada engendra em alunos, profissionais da educação e sociedade como um todo. Vislumbramos o caos não somente agora como no futuro ( não muito distante) onde uma intervenção realmente dura há de  por ontem na casa! Só pra lembrar que se puder quero estar metida nessa. Que a geripoca vai  piar! Pra que? (O leitor pode vir a perguntar) para um tempo e um espaço mais harmônico e  justo e expansivo de verdadeira  ordem e progresso. Num tempo onde atitudes serão propositivas e positivas visando sim a independência, responsabilidade , liberdade, autonima (de cada um e de todos como sociedade, claro!), portanto. 

Alessandra Espínola

Rio, primavera de 2021.

Canções de flor e fonte

 [Canções de flor e fonte]

Agradecer pelo rio que corta o lugar onde nasci e morei.  Ali,  a praça num carrossel de imagens líricas. Raízes costuradas infinitamente para encontros futuros noutros ramos e rumos.  O coreto cantava em cima do rio no correr das águas. Como o miolo de um temporizador onde atravessamos e fazemos a passagem correndo todos nós nessa liturgia do tempo todos nós pequenos grãos de areia finissimas no cosmo ( gerando pérolas?). A sombra se aproximava das horas. Ah o sol de meio-dia, ampulheta da alma. Chegava perto do céu o som das coisas crescendo. Coração e flor deste chão.  Tinha era perfume de sol nas manhãs destampadas, gatos rolavam numa grama tenra ainda.  Areia. Árvores. Pedras. Frutos. Pássaros. Mulheres. O amarelo do sol guardado na memória do passado. O cheiro das flores das árvores caídas no chão pintavam a cena de uma infância álacre curtida de ventos,  lírios e águas. Agradecer pelo rio que torna à fonte. Agradecer por me tornar fonte inesgotável de  mim. 

Alessandra Espinola

Rio, primavera de 2021.

Fragmentos

 Fragmentos  :

Vertigem de ser o coração aberto e a entrega florescida no caos. 

O olhar cúmplice da alma por um instante sendo amor. Não, não essa coerência e linearidade que tu pensas tudo isso que te digo. Vem, é assim como sentir o frio e ser com ele nele. Em sendo o frio sentindo o frio. Amar o frio. Sendo o tempo na ágora de agora.  Amar na conjectura. Nas fendas. No escuro cintilar galacteo. Abrir -se num leque de cores em dança e infinidade de tons e matizes. Entremear raízes. Se expandir  na imensidão até desfazer-se. Cinza. Magma. Rocha. Carvão.  Mergulhar na sombra. Como quem se ergue. Romper tendões. Aquiles que me grita. Aqueles que me habitam. Religa-los. Reconstruir regenerar a corola em botão rediviva rosa (mistica e viva?), uma a  uma pétala que renasce em seu temp(l)o de  brotação de ser flor coroando o peito. Coragem de ser flor. Percebe? Lentamente abrir o coração. E deixar a voz ser o leve contorno do silêncio. 

Alessandra Espinola 

Rio, setembro de 2021.

Fragmentos

 Fragmentos:

Filha do fogo e da água.  Corpo de  barro , chuva, pedra, magma. Água pura..sangue vivo de uma terra que se ajuntou de verde vermelho branco azul amarelo brasão. Açafrão. Turquesa azul - delicadeza dos  mares nos  azulejos. O lustre. A taça.  As xícaras. Os pratinhos de pira louça porcelana desenhados à mão. Nossa senhora acesa dourada preta azulada no alpendre, iluminando o batente onde dormi toda uma vida. Dormia nos braços alvoroçados das ondas e das chuvas espumosas e intermináveis. Amanhecia como em sonho na casa de barro moldando ainda na mãos desta terra viva noventa e silenciosa como o tabaco de meu pai.  A fumaça do fogareiro, do fumo, do fogo de monturo enchendo as manhãs, o quintal , a casa, era toda eu névoa. Era toda eu casa. Quintal. E chão. Era fogo! Sob os olhos do pai-vô. Os tamancos de madeira sarandavam no chão de taco tb de madeira escurecida  brilhante e batiam como quem bate a porta das manhãs convocando a menina ao café e ao trabalho. A descoberta e_laboração de si, do mundo, da vida . Mal dava tempo de vestir, ia do jeito que estava, assim mesmo debaixo das cobertas, mas me dava sob a luz do dia descoberta. E inteira. Corria lentamente a enrodilhar os cabelos numa maçaroca só.  A " dona xepa" o pai dizia... ia descalça , pés planos pisar as pedras, a terra preta, roxa, o estrume deixado pelos cavalos que iam por lá comer capim.  Mal vestida e sem calcinha porque era chique ter calcinhas na época.. custava caro, tb ei nao gostava e metia qualquer roupa caindo do corpo. Martelo nas mãos sentava no toco de árvore  e tomava a quebrar pedras.  Juntava um monte para mistura de fazimento de casas. Revolvia a terra arrancava capins, colhia as verduras, frutas. Bertalha , subiam pelos muros, um mar de suculências , mãe ia fazer com ovos da galinha do quintal. Vó socorria nas faltas. Nos invernos que secavam tudo. Pai pegava serrote, eu segurava firme a madeira, às vezes entre as pernas agarrava como um cavalo tosco segurando a crina, a gente ia fazer apoio pra roldana, tinha corda mas corda sozinha não leva coisa a outra.  So da amarrações e nós. O balde já  tinha também.  Que eu já carregava massa de cimento, pedras e entulhos. E água.

A hora do café.  Eu subia correndo as escadas, mãe tinha já preparado quentinho adoçado, levava devagar descia os degraus e sentava na pedra com pai, a fumaça de novo subia. Era manhã ainda como uma grande peça do mosaico no teto.  E do painel da parede de meu quarto. Tomávamos em silêncio observando os detalhes despercebidos de outrora. A névoa do café, o cheiro da terra, a força sobrecomum, o Sol acendendo cedo o gosto pelos terrenos , quintais e jardins. Pelo suor sede e sangue das horas. Pelo labor! O sabor do café absorto em silêncios e reflexões, o ímpeto de levantar logo e ir ao som das tabancas do pai. A voz rude, grossa vibrando a casa. Vez em quando eu ia lá no quintal e tocava as violetas da mãe, orvalhadas de noite e lua. Algumas velhas como espumas de chuva e  mar outras novas como jovens coradas. E, por uns instantes, sentava a meio da escada e contava os degraus e o tempo que me levavam com justa medida ao pai e à mãe para que quando me chamassem eu pudesse - no tempo  mais ou menos exato e ao máximo que pudesse- atender lhes o chamado. Era bem difícil quando os dois me queriam ao mesmo tempo.  O que era engraçado é que pai dizia: "vai ajudar sua mãe " , ou ainda: " sua mãe está lhe chamando". E quando com mãe as vezes ela dizia embora me segurasse por  mais tempo em alguns momentos específicos que depois conto.  Então ela dizia:" seu pai está lhe chamando" ou " vai lá no seu e peça isto " ou ainda " vai ajudar ou cuidar ou trabalhar com seu pai". Na verdade os dois eram e são partes metades da mesma escada. Eu percorria os degraus daquela escadaria.  Que a noite ao topo eu contemplava cheia a lua, às vezes vazia ou pela metade e nas manhãs o Sol à tona, átono, às vezes esfumaçado pela névoa das montanhas. E sempre à minha cabeça de cabelos enrodilhados no topo ao meio-dia como uma superfície  de cristal, sal, trigo, neve, alva pelicula de mar. Tudo não é miragem.

(Continua no próximo...)

Alessandra Espínola 

Rio , primavera de 2021.

Cartas

 Pra você, é claro!

Na calada da noite, você transforma meus vazios e silêncios  em canções de amanhecer.  Onde a água do rio doura,  bebemos nossa sede. Tu trazes meu sorriso de volta como cavalo alado no peito - que galopa.

Eu vou entrar no sertão. Vou ser o mistério de tua Diadorim!  Possa eu chegar ao final. Mãos dadas no por do sol até lá onde, de novo, Amanhece!

Alessandra Espinola

Diario de cartas 2

 Diário de Cartas 2: (rascunhos e rabiscos )

*

Sabe que de melhor hoje foi você o que ocorreu. O campo verde de terra estrangeiro meio familiar se confunde e se mistura com o azul de um mar inteiro a caber nos teus olhos. Como quem voa de cabeça para baixo. A noite penetrava entre nós e eu colhia de tua face os escritos do tempo. Raízes. O tempo esteve o tempo todo em nós.  Que quando soava a pergunta onde você estava, eu em silêncio sempre respondia apenas sendo. Cigana. Canina. Menina. Raposa. Volátil. Escorregadia.  Distraída. Mulher... Impossível até de mim. Impossível o encontro. O lance do olhar capaz de acolher. Cadê? Perdemos será? Qual perdas no tempo. Os caminhos se bifurcam num virar de esquina e já vamos longe...distantes. Com o desejo primitivo voraz de se dar. 

Eu alisava à palma das mãos o teu rosto com gosto como se logo me dissesse adeus. Sabíamos. O gosto que fica. Doce absinto o luar. Li a tua história no aberto livro do teu peito.Como braile lia teu corpo-alma  desnudado. Meus lábios colhendo teus frutos a flor a pele o lábio a língua carinhosamente espancando músculos. Teus nervos em desassossego me tremiam no fundo de um beco. No porão do tempo o futuro se impôs num presente surpresa. E você de repente era tudo o que sempre quis. 

Um beijo!

A.

Alessandra Espínola 

...dá-me o teu tempo comigo, comunga de teu fluxo, de tuas dores, traumas, belezas, virtudes, caminhemos o caminho, o passo sem pressa, sem ...