[Da série Cartas:]
Quando esboçava uma despedida, os olhos marejaram. Quando mais uma vez tive de cortar o cordão umbilical entre ti e tua mãe. Eu não saberia quem ia viver. Não tive e nem tenho este direito. Era um dever apenas fazê-lo senão ambos poderiam ainda estar em apuros. Os dois quase morreram. A mãe sangrava em demasia e tu arroxeava por outra via.. Não poderia correr o risco de perder os dois, assim. Não pude chorar. Na verdade, na hora em que tu sangrava já a mãe cansada tive de correr. Vai já sabendo desde nascer que a vida no máximo coloca várias possibilidades e às vezes não dá inúmeras opções; somente duas. Tu escolhes. Nasceu! E agora vivo escolhes tb. Mas o que querias dizer é que chorei depois. Quando esbocava uma despedida. Fiquei feliz de os dois sairem vivos desta. Remascimento eu chamo a isto. Você e tua mãe. A tesoura parecia cega a mastigar as coisas. Como uma boca viva e faminta a vida. Mas é só o que parece. Na hora do corte sempre é afiada a lâmina que separa. Que abre espaço. Que coatura outraa texturas e tessituras de vida. Mas separa ajuntando ,percebe? Não, não penses que é abandono ou coisa parecida que não é. Sei que não adianta te dizer isto porque o que tu sentes é o que o conta. Na verdade, me vou para que todos possam expandir. Inclusive tu, e por isto mesmo estive todo tempo contigo. Ate o máximo que pude. Agora chegou a hora. Entendo que o que sentes é de tal modo angustiante que te lembras da mãe ausente de tanto que trabalhava para poder sustentar tu é teus irmãos. Antes e depois que tu nasceste. Mas pense que eu... Eu em meu caminho de seguir não fui menos só que tu. E ainda sigo no ermo longo e longe do horizonte. Sumindo fininho na estrada tal qual estrangeira. Estrangeira esperança incompreensível... sigo, pois.
Da série: cartas
Alessandra Espínola
Nenhum comentário:
Postar um comentário