[Canções de flor e fonte]
Agradecer pelo rio que corta o lugar onde nasci e morei. Ali, a praça num carrossel de imagens líricas. Raízes costuradas infinitamente para encontros futuros noutros ramos e rumos. O coreto cantava em cima do rio no correr das águas. Como o miolo de um temporizador onde atravessamos e fazemos a passagem correndo todos nós nessa liturgia do tempo todos nós pequenos grãos de areia finissimas no cosmo ( gerando pérolas?). A sombra se aproximava das horas. Ah o sol de meio-dia, ampulheta da alma. Chegava perto do céu o som das coisas crescendo. Coração e flor deste chão. Tinha era perfume de sol nas manhãs destampadas, gatos rolavam numa grama tenra ainda. Areia. Árvores. Pedras. Frutos. Pássaros. Mulheres. O amarelo do sol guardado na memória do passado. O cheiro das flores das árvores caídas no chão pintavam a cena de uma infância álacre curtida de ventos, lírios e águas. Agradecer pelo rio que torna à fonte. Agradecer por me tornar fonte inesgotável de mim.
Alessandra Espinola
Rio, primavera de 2021.
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