terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Diário:

eu tenho medo da violência e intensidade com que posso te amar. da falta de ar dos mergulhos em ti, nestas profundezas que tudo mistura , de não querer voltar à superficie e morar nos teus reinos. às vezes, pareces que não tens noção de teu valor. ele vem de dentro, como um tesouro guardado e oculto.

Rio, dezembro de 2023.

Alessandra Espínola

Diário:

como ar assim te quero

alisando a fímbria ondulosa de minha pele

sutil a tocar minha face cansada

nos rios da carne mais fina 

tu moves em mim o tempo 

alcança raízes onde o encontro.

navegamos na névoa

e nossos barcos se tocam 

outrora tenso agora tua suavidade é um cuidado

e através do silêncio te respiro , secretamente.

me torna mais humana mais amena e menos esquiva


Rio, dezembro/2023.

Alessandra Espínola

**



sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Diário

é noite, o cão uiva por entre as folhagens espalhadas no quintal, a luz da lua atravessa a copa da árvore e toca o focinho do cão, a mandíbula aberta, como que faminto... não se sabe de quê! o uivo e o luar se mesclam e flecham na névoa noturna da alameda lá fora que se estende até o pé da morro. o cão caminha até a entrada da casa e vara a noite a encontrar com seus lobos no alto da montanha. 

Rio, fim de primavera de 2023.

Alessandra Espínola

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

 Diário

alguns ritos se modificm ao longo da vida nos vários renascimentos que tive, Ao acordar de uns tempos pra cá, a primeira coisa que faço ao abrir dos olhos é levantar a cortina e deixo a luz entrar com  junto a brisa vejo a manhâ beijando minha face. me banho de silêncio, frescor, suavidades e luz.

30.11.2023.

Alessandra Espínola

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

 diário

exumação do silêncio, é preciso. abrir o túmulo, mover a pedra...  o papel de seda na gaveta embrulhando umbigo, o cheiro do passado amarelecido, o peito aberto pausado, sangrando ainda, a lágrima corre meus músculos à dura pena, tinta, papel e barro que lentamente vai dissolvendo ou queimando no forrno do tempo...  

Alessandra Espinola

terça-feira, 28 de novembro de 2023

 Diário

Janela aberta. a cortina cinza balançando suavemente se abre numa brecha de luz. o quartinho todo acende de um brando Sol . o corpo lasso no chão se move lentamente procurando sentidos. lembro-me ainda dos resquícios dos sonhos noturno, e os deixos ir como pássaros que voam. 

frusto-me  ao levantar e descobrir que o pó de café do pote acabou. já é fim de mês e aquele cheirinho da infância que me nutre diariamente se esvai na luta pela sobrevivência. mas não há perda, acordar e estar viva é perceber que a despeito da falta das coisas todos os que amo e já morreram vivem aqui em mim e comigo e me dão toda esta vida para que eu resolva logo a falta do café. toda a névoa se desfaz quando olho pra o que importa, para as pessoas e o que elas me deixam impressas na memória , no coração, nos raros instantes em que estivemos juntas, 

encontro sentido para além das coisas, o cheiro do café me envolve por dentro e passo em meu coador interno, e nesta fonte de águas abundantes que borbulham a xícara fica cheia.

alessandra espínola

Rio, primavera de 2023.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Diário

os estranhos do mundo são meus amigos, o estrangeiro, o atípico, o exótico  o expatriado, o exilado, o imigrante, o distante se tornaram íntimos, minha familia da raíz à ponta da folha, lá onde o orvalho goteja e retorna à terra. como uma lágrima que molha a face na solidão, amanhece e escorre. em meu ventre útero toda a humanidade, em meu peito ardendo a vida pulsando... sístoles e diástoles...como ciclos dos vulcões em erupção. eu : aberta de boca em aleluia ao céus a terra jorra seu magma, ebulição tranformadora, renasço, mas é lento, aos poucos, devagar como um desencasular até o último raio fulgente de luz e asa batendo. eu sou a imensidão. o coletivo habita minha intimidade.

alessandra espinola

Rio de Janeiro, primavera de 2023

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

{para Diego}

sei que o amor dança como serpentes dentro das carnes dos homens feito sol explodindo . cardumes dentro dos corpos . como a lua que mergulha em sua terra profunda , o amor se enaltece nos corpos dos bailarinos, é sua morada, sua exaltação. está em casa o amor, e é como um abridor de latas para rasgar o ventre do espaço, nascedouro o amor nos corpos dos bailarinos, por isso nunca cabem em ventre algum , veja: estão sempre em movimento. os pés num impulso como se saissem do fundo do poço ou dos oceanos de volta à superficie das águas, como se respirassem pela primeira vez e dói o amor nos pés que como pulmões em pleno grito não solto tangem os músculos no corpo, o ventre se abre, e então é luz. e tudo é abrigo no passo que alça voo e solo,  a rua,  o céu aberto , o chão, o amor dança na anca dos seus pés  - alucinada miragem fugaz veloz voraz , o amor sabe os corpos dos bailarinos. 


Rio, 02. novembro. 2023

 branda lua

 encantada no lago

 palco de silêncio - dia finado

**

a vela derrete no altar

frutas e flores aos mortos

coração ex_posto

**

findo dia

entrego o corpo ao tempo

o ser não se desfaz


Rio, novembro de 2023

domingo, 3 de setembro de 2023

nas pálpebras fechadas

os sonhos dormem -

fria realidade sobre o túmulo...

***

lua minguante

a dormideira se fecha

ao ser tocada nas folhas

***

domingo nublado 

raios de sol nos orvalhos

põe o corpo em banho-maria


Alessandra Espínola

Rio, inverno de 2023.

sábado, 2 de setembro de 2023

silêncio florido

beija-flor pousa

no ipê rosa 

***

cogumelo desabrocha

no meio do silêncio

verdejante

***

pensamento na relva

raio de sol mergulha

em raiz na terra


Alessandra Espínola

Rio, inverno de 2023.

domingo, 27 de agosto de 2023

tapete lilás no quintal

pétala por pétala 

ipê roxo celebra o fim

***

chuva no telhado

concerto para piano

e silêncio na casa

***

primeiros brotos

de folhas na mangueira

logo é primavera !

***

Alessandra Espínola

Rio, inverno de 2023.

manhã de inverno

o cristo nebuloso

abraça o rio

***

por toda parte chove

olhos cheios de névoa

navegam no rio

***

ponte rio-niterói

vestida de nevoeiro

silencia a noite

***

Alessandra Espínola 

Rio, inverno de 2023.


terça-feira, 7 de março de 2023

pequenos poemas

o ventilador ronca no teto da casa

calor se derrama entre o seios

cai a tarde


***

menina galopa em direção ao poente

o cavalo negro corre no horizonte rubro

cabelos ao vento


07.03.2023

diário

amor incubado. estava ali guardado no fundo como um sangue coagulado. à sombra como uma raiz natimorta, enterrada feito um umbigo seco de sangue e memória. veio o cansaço como quem aborta a coisa ja morta, passada, depois febril levada e lavada de tempo explodido debaixo do sol desses que entra pela janela cortando a densidade da noite escura. o amor viera a tona, depois de anos que o pai e  a mãe morreram.

07.03.2023

...dá-me o teu tempo comigo, comunga de teu fluxo, de tuas dores, traumas, belezas, virtudes, caminhemos o caminho, o passo sem pressa, sem ...