Diário
Janela aberta. a cortina cinza balançando suavemente se abre numa brecha de luz. o quartinho todo acende de um brando Sol . o corpo lasso no chão se move lentamente procurando sentidos. lembro-me ainda dos resquícios dos sonhos noturno, e os deixos ir como pássaros que voam.
frusto-me ao levantar e descobrir que o pó de café do pote acabou. já é fim de mês e aquele cheirinho da infância que me nutre diariamente se esvai na luta pela sobrevivência. mas não há perda, acordar e estar viva é perceber que a despeito da falta das coisas todos os que amo e já morreram vivem aqui em mim e comigo e me dão toda esta vida para que eu resolva logo a falta do café. toda a névoa se desfaz quando olho pra o que importa, para as pessoas e o que elas me deixam impressas na memória , no coração, nos raros instantes em que estivemos juntas,
encontro sentido para além das coisas, o cheiro do café me envolve por dentro e passo em meu coador interno, e nesta fonte de águas abundantes que borbulham a xícara fica cheia.
alessandra espínola
Rio, primavera de 2023.
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