Subi os degraus em silêncio.
Abri a porta . Rangido.
Era noite e as estrelas observavam a luz acesa na casa. Candeeiro. Frio. Fastio do ordinário cotidiano da cidade turbulenta.
As vozes dos homens na sala corriam a madrugada como um pequeno alvoroço em dia de futebol.
Nada de mais. Nada fora do comum e habitual. Um homem se despede - com certa pressa, meio ligeiro, em agito, como de costume lhe é seu sentir , assim como se houvesse sempre uma ameaça, uma tensão, a ânsia da perda, do parto, do abandono. E, logo o ronco do motor.... do carro e de seu peito aflito, naufragado em crises pessoais. Bêbado de emoções emergidas e expargidas - espumas de copo corpo casa couraça. O silêncio então acolhe a noite em seus braços. Um certo alívio. Um calmo aluvião parece agora orquestrar os passageiros em voo.
Alguns sons ainda dentro da casa são vivos,: a criança que chora e chama sua mãe, um homem fala ao telefone com alguém- parece sentado numa poltrona, a forma como sua voz ecoa revela seu desconforto na cadeira confortável. A mulher parece dar o peito à vida nascida.
Um outro homem surge da cozinha com o copo na mão. Esticam a noite conversando como dois comentaristas de campeonato carioca de fé e futebol.
A criança volta a chorar, chamando a mãe. A janela se fecha e o ar esquenta antes de chegar aos pulmões. Parece que em outro quarto nasce uma criança.
Cabeça pra baixo. Insuflam pulmões. E a gritaria recomeça.
Nessa hora, Schumann toca sua sinfonia e eu durmo com o livro aberto, o andar da história pausa perto do fim.
Alessandra Espinola
Rio de Janeiro, outono frio de 2025.
Que prazer, tua construção de cenário nos ambienta de forma acolhedora. A última linha é um doce.
ResponderExcluir