quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Funduras e mergulhos. (Rio/2020)

 Tentei escrever uma vida inteira de vezes o que sentia, via e vivia, a lágrima de luz que desenterrava da lama, as vidas e os mortos da menstruação já meio ressecada do tempo. Era o tempo passando pelo corpo, regando e rasgando a terra, rachando as paredes dos velhos casebres, a cor estrumal do barro, vermelho e junco do tronco e da árvore genealógica de um ciclo incalculável de processos de transformação e renascimentos, as partes alquebradas vindas de uma memória tênue, netuniana e solar.  Descobertas na des_construção de um eu pelo todo e para o todo. Tentei por vidas várias vezes viver o óbvio e o descontrole que há em tudo que flui. Das marés ao pó. Incisiva fui na fundura de sapatas para o nada. Atestar que não há vazios. Vivo o transcendente. A justiça do cálcio e o imparcialidade do mercúrio nas mandíbulas terrestres de cal e granito. O veneno antídoto na ponta da espátula. Quebrar a relíquia do dogma. Velar a ciência e o ouro. Ter o olhar oblíquo cortante de um dente de sabre e tigre que rasteja e voa nos primórdios do enxofre de um vulcão. Forjar se de imaginação, poesia e misterio -eis o magma dos oceanos em mim. Descrucificar a mãe. E o pai. Coroá-los até a sepultura sem nomes ou sobrenomes. Catalogar o concreto ilusório e passageiro dos corpos que tive até o instante do piscar dos olhos e das entrelinhas dos cárceres e dos raios lunares costurados entre as vértebras. Eu sou a incansável Ágora e o indomito Agora. Seja qual ínfimo, infinito instante de ser em sendo eu mesma. Frêmita fêmea alquímica. Secreta, oculta. E nunca,  deserotizada! A casa ... a casa ... é viva e mora em mim. Reconstruo obras de vida. Limpo a cal e o esquecimento. Recolho os ossos da sepultura e com eles incenso o silêncio que é uma tal alma das palavras esculturais do temp(l)o. A lingua(gem) sôfrega, ardida e sorvente me ocupa do imponderável e me lança às esferas e às espirais do conhecimento. 

Texto e imagem: alessandra espinola. 2020.

Um comentário:

  1. 20-11-2106:55:38

    PROVA DA EXISTÊNCIA

    1
    A História começa no 1, não no A ou no B ou mesmo no C. Antes de existir eu ou ou o vizinho, começou por existir o 1. Um carneiro? Cordeiro?? Cabra??? Aposto na cabra!
    Se começar por provar que a cabra existe, provo que deus existe, que eus existem, que eu existo! A Prova da Existência, nasce desta consciência de uma autoconsciência, gerando a autoconsciência.com como aqui pode ler.
    Claro, só se responderem, só através da correspondência a consciência se torna autoconsciência. Bom, isto necessita de prova, a única prova, está na prova poder ser provada, só isso a prova. Aprova? Então escreva! Já sei, vai escrever para dizer que Sim, que deus existe? Eu gostava muito daquele deus que era apenas: um gato, a Lua, o Sol...
    Agora já não tem a certeza se aprova|!? Os crentes o que gostam é de adivinhar o divino, encontrá-lo num copo de vinho, sentirem a sua presença!... A Fé é uma doença!! Uma crença!!! Eu sou deus a chegar através do 1, um carneiro?
    Voltamos sempre ao inicio, nunca saímos do inicio, no inicio estava eu e mais coisa nenhuma, quando me ocorreu escrever esta crónica sobre a Prova da Existência. Onde, se conseguir provar que (eu) existo, provo tudo: tudo existe.
    A imaginação nasce da imagem, a imagem divide o objeto em dois: tu e eu, você existe necessariamente. A prova de que eu existo é a de que tu existes e és deus, como eu. Não vale a pena divinizarmos a coisa? Vale “!tudo vale a pena, se a alma não é pequena”.
    Agora estamos na Hora, no agora. É como vê, vês? Não há dúvida nenhuma! Eu existo, tu existes, o 1 existe, todos existimos. E tu que andas sempre cheio de dúvidas sobre se existes? Heis a resposta: tu existes! Eu existo, ele existe? Aí, alto lá.... e se ele for de outra cor? Estupor de ideia! Estávamos tão felizes, tão satisfeitos!! Afinal o outro, pode ser outro... demónio!!! Tina de ser, nem deus quer existir sem companhia?
    No dia em que pensei escrever a Prova da Existência pela primeira vez, queria ser poeta. Isso mesmo, a crença na “força da palavra”: “deus é a palavra”! Uma ideia parva, pura, como uma ave em voo, linda...
    A minha mãe gritava como uma danada e eu entrava no mundo a ouvir aquela chinfrineira, na companhia de uma série de tias, todas a apoiarem a minha mãe: uma poias... E eu, a nascer de uma delas! Grande!!!...
    Eu até posso ser eu, tu até podes ser tu e você será sempre você, não nos safamos é sem ela: a mulher. Bem podemos pensar “eu não existo”, depois tentamos “ela não existe”. Mentira, ela existirá sempre e se não abrir as pernas, um homem nunca conhecerá a humanidade: viva a mulher!
    Celebremos as poias, pois!
    Isto ia tão bem... pois é, não existe nada perfeito! A minha mãe há-de ser sempre a culpada de tudo, ainda se eu tivesse acordado calado, se não me batessem? Ah, foi para eu respirar melhor! As mulheres arranjam explicação para tudo, é para nosso bem...
    Crónica minha que se prese tem de falar bem das mulheres, elas são a força criadora da humanidade, foi uma mulher que vislumbrou deus pela primeira vez. Se eu não estava lá, já estava a caminho...
    Tudo nesta vida é uma poia! Nascemos de um ato de excreção, somos excrementos... Neste momento começo a preparar-me para provar a poia que sou, quem não gostar come menos. Nem pensar em procurar uma quantidade, aqui só conta a qualidade!
    Um riso gotural saindo da garganta como se canta dela fazendo um ralo, não me calo: fico em silêncio. Escuto... fico à escuta, ainda me ouço e é como se, da minha voz, sobrasse um osso, um esqueleto completo!
    Pronto, é isto: é o meu projeto! Não gosta de poias? Pois é, quem gosta?? Há-de haver quem lhe diga que é bom e como provará que está enganado quem lhe diz a verdade???
    Sim, acabamos com mais dúvidas que certezas, a certeza será sempre a nossa mãe! Disse.

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...dá-me o teu tempo comigo, comunga de teu fluxo, de tuas dores, traumas, belezas, virtudes, caminhemos o caminho, o passo sem pressa, sem ...