segunda-feira, 12 de setembro de 2011

silêncios

chuvosa manhã
águas em reboliço
dentro do xequerê

***

casas coloridas
na rua da ladeira:
arco-íris

***

manhã de sol
o jardineiro
cultiva alegrias

***

nesta manhã morosa
gatunagem no telhado
até as folhas secas dão no pé

***

toda a vida
coqueiros
enfrentam o vento

***

para acolher o frio
a gata se aninha
nas pernas da moça

***

folhas secas
ainda fazem sombra
no telhado de vidro

***

tapete voador
folhas secas
forram o quintal

***

o sino da igreja
toca os pombos
do peitoral das janelas 

***
(nesta manhã)
em tua face
a brisa em flor
de goiabeira...

2 comentários:

  1. " folhas secas
    ainda fazem sombra
    no telhado de vidro..."

    fico sem palavras. dizer o quê. suas (re)leituras são memoráveis. me vejo e te vejo em cada poema. são haicais belos. não no rigor do 5-7-5, e para mim é o que menos importa, mas na essência de cada palavra. que exprimem um instante. o " insight ", como:

    " o sino da igreja
    tocam os pombos
    do peitoral das janelas..."

    eu que procuro o haicai diariamente em minhas viagens, meus instantes a só com o mundo, como em um claustro, vejo aqui momentos de uma perspicácia divina.

    " (nesta manhã)
    em tua face
    a brisa em flor
    de goiabeira..."

    esse fruto carnoso de um vermelho-róseo que só "ela" possui. cujo cheiro me embriaga. sua poesia me embriaga. eu, bêbado de palavras, confesso:

    diariamente
    mesmo com a chuva
    te abraço...

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  2. sua poesia é presença. muitos olhares contemplam seu esplendor. tal a goiabeira ao vento. cujo fruto carnudo e rosado, quase um crepúsculo incendiando nossos sonhos, cheiro de embriagar transcende a alma. sua poesia é névoa que envolve. provoca calafrios. deixe-me absorvê-la por inteira. só assim, saberei toda sua poesia. sob a goiabeira ou dentro dela.

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...dá-me o teu tempo comigo, comunga de teu fluxo, de tuas dores, traumas, belezas, virtudes, caminhemos o caminho, o passo sem pressa, sem ...