chuvosa manhã
águas em reboliço
dentro do xequerê
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casas coloridas
na rua da ladeira:
arco-íris
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manhã de sol
o jardineiro
cultiva alegrias
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nesta manhã morosa
gatunagem no telhado
até as folhas secas dão no pé
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toda a vida
coqueiros
enfrentam o vento
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para acolher o frio
a gata se aninha
nas pernas da moça
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folhas secas
ainda fazem sombra
no telhado de vidro
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tapete voador
folhas secas
forram o quintal
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o sino da igreja
toca os pombos
do peitoral das janelas
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(nesta manhã)
em tua face
a brisa em flor
de goiabeira...
" folhas secas
ResponderExcluirainda fazem sombra
no telhado de vidro..."
fico sem palavras. dizer o quê. suas (re)leituras são memoráveis. me vejo e te vejo em cada poema. são haicais belos. não no rigor do 5-7-5, e para mim é o que menos importa, mas na essência de cada palavra. que exprimem um instante. o " insight ", como:
" o sino da igreja
tocam os pombos
do peitoral das janelas..."
eu que procuro o haicai diariamente em minhas viagens, meus instantes a só com o mundo, como em um claustro, vejo aqui momentos de uma perspicácia divina.
" (nesta manhã)
em tua face
a brisa em flor
de goiabeira..."
esse fruto carnoso de um vermelho-róseo que só "ela" possui. cujo cheiro me embriaga. sua poesia me embriaga. eu, bêbado de palavras, confesso:
diariamente
mesmo com a chuva
te abraço...
sua poesia é presença. muitos olhares contemplam seu esplendor. tal a goiabeira ao vento. cujo fruto carnudo e rosado, quase um crepúsculo incendiando nossos sonhos, cheiro de embriagar transcende a alma. sua poesia é névoa que envolve. provoca calafrios. deixe-me absorvê-la por inteira. só assim, saberei toda sua poesia. sob a goiabeira ou dentro dela.
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