...como o coqueiro enraizado na terra, geme seu tronco ao vento alucinando a goiabeira da casa velha dentro do quartinho de telhado de amianto. tanto tempo a gente se olha e se guarda. dentro do olho outro olho depois do ocaso. entre os olhares o vasculhante aberto, a manhã com suas garças sobre outros telhados e o ocaso cintilando as paredes dentro do quarto com aquele pó do tempo amarelado, coisa mágica que parece ouro caindo para fora de nossas ampulhetas...será mesmo tem sempre algo depois de qualquer coisa? e pra onde vão todas essas coisas depois que cai a tarde-noite? e pra onde vão os sonhos quando a cor damos? se tu me alvoroça goiabeira, das folhas e galhos caem lagartas de fogo, é fogo, viu!? Fogo de todas as cores e muitas caem no nosso cocoruto, pois é de ferver o juízo da gente, então será depois elas virarão borboletas saindo de nossas cabeças duras? Teu desafio me suspende no vôo de teu abraço, e tu_do me gira, gira.
***
hum, também tem um pássaro encarnado na pupila de meu olho, pássaro antigo a me gritar nas horas de vôo no entardecer dos dias, rosa-ouro que corta o céu por trás das folhas de coqueiros no fim-de-tarde-quase-noite, sozinho ele mergulha e atravessa a minha sozinhez de ser. Sozinha eu faço solidão. Doceira de mão cheia e tem vez mãos vazias, mexendo o tacho de doce como feitiço com feitio de alegria, mas nem uma criança vem meter o dedo na doçura de minha solidão. no labirinto já peguei todos os minotauros, miniaturas de solidões, quem tem asas pode fazer vôos para fora de nossos tediosos labirintos e encontrar cidades ilhas onde estão outros labirintos e grandes fios de arder as mãos, é bom porque nunca se sabe o caminho, nunca se sabe onde vai dar. é porque não tem saída?
Mas desde sempre tenho manias de dar em nada, o fio vai sendo tecido assim manhã após manhã, tarde após tarde, durante noites inteiras, e nessa rede que balança pendurada no nada a gente para pra descansar, fazer outros teares, outros labirintos dentro de outros labirintos até se cansar e ficar tontos e provar do doce que ninguém é de ferro! Que ferro enferruja! Ser de seda, sede, água, pó e nada que é mais volúvel e macio próprio para labirintos.
é preciso ouvir
ResponderExcluiro silêncio dos ossos
está por vir
este silêncio
que ao ver-se
pedra se faz pedra
são os nós
que vivemos solitários
em gravuras indigestas
tudo o que fazemos
não é findo nem começo
somos parte desta f(r)esta ?
não há tempo para temer
para caber em tanta dor
tudo é tanto é ter ou não ter !?
teus labirintos
onde suponho um riacho
de estrelas tramando pétalas
a sede que te sinto
nesta tarde de ocasos e garças
move-se em silêncios soltos
esta solidão
que lhe dão não é só tua
é minha
o vôo do pássaro
por sobre os coqueiros
cuja sombra rasga o céu
sibilando sobre mim
como uma chuva que se esvai
ao clarão da lua
a lua que paralisa a visão
cena que transborda o coração
do memorável céu
juntos iremos juntos
nessa densa névoa
que agora vira ouro
onde teu feitiço
me encanta e me toma
por um instante
sabemos
a agonia dos ossos
e a dobra das ondas
primavera de trevas
e líricos cristais
de ouro-luz
à deriva do horizonte
o crepúsculo cresce
reina e dá de ombros
e não raro acena - eis a cena:
um rio trans borda mil veios róseos
nas rimas da anatomia
o rumor do mar
é murmúrio sem rumo
como um ébrio
derramando seu rum
a borboleta é uma estrela
sobre a pedra
a desafiar o cotidiano
ouve o vento:
o tempo é exíguo
antes que anoi
teça o silêncio
entre tuas ranhuras
minhas intrigas
no instante mais espesso
do orvalho mais suave
relâmpagos de silhuetas...