do abraço ao alvoroço:
aquela goiabeira pipocava verdes esperanças por cima do muro do vizinho, o menino se esticava todo pelo muro alto, mas a goiabeira é que se esticava para todos os lados, a rolinha deitava e rolava no rubor do de dentro... algumas goiabas bicadas no chão do terreno, formigas, e bichos que se anelavam na carne da fruta como árvores que se enroscam e crescem por dentro.
o menino pegava a maior de todas as goiabas ao alto e roçava os dentes na casca lisa-áspera-ácida, cheirava com as mãos e o corpo todo, depois lhe cravava vagarosamente os dentes atravessando os caroços do tempo, a saliva regava até às raízes daquele encontro, ficavam se demorando ali o menino e a goiabeira como algo que não se quer acabar nunca, nunquinha... até que o menino cresceu, nisso ficou toda a infância, menos nos invernos que a árvore parecia morta, mas era sequidão de estar sozinha no frio, o menino olhava de noite pelo vidro da janela os galhos desenhando sombreados no céu, contava-lhe histórias de crescer enquanto dormia, de passar por longos invernos, por desertos extensos e estações de florescer o mundo, lá dentro da terra estava viva, o menino descobriu. Todas as estações em gestação no seu tronco seco e quase estorricado, a goiabeira se foi depois que a moça da casa velha foi embora, se mudou pra longe e não voltou mais... só que essa moça levou a goiabeira dobrada nas mãos como um antigo origami, levou consigo aqueles bichos que cresciam no interior dos frutos e levavam pra longe pedaços daquele terreno pela terra afora pelo mundo adentro levava aquele cheiro das coisas que nunca morrem e a lembrança do menino que gostava de goiabeiras, de histórias para se embalar e de sonhos pra dormir.
Aqui desdobro a goiabeira. E te alvoroço e tu me abraça.******
saci era redemoinho de histórias do preto-velho na casa da vó, o cachimbo cheirava mais forte, aquele caramelo incensava a casa toda o corpo todo, o cachorro ficava virado e eu ria, ria... derrubava tudo! os quadros na paredes ficavam tortos, a parede riscada, as velas no santuário se apagavam, a bananeira alvoroçada também, todo mundo sem cor, eu fazia rir, mas tinha vez se fosse noite, saia correndo de tanta pajelança, ia pro meio da rua, a lua lá em cima dava-me a serenidade de água que escorre córrego cristalino...ouvia ao longe os gritos dos ancestrais...
***
chuva na janela era iemanjá com seus cabelos de mar, cristais de prata e lágrimas de alguma criança ao relento, será?
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eu fazia rir nas goteiras que se metiam na casa velha, uma correria dos diabos, todo mundo com os baldes, bacias, vassouras, rodos, a chuva toda dentro da casa velha, dentro das moringas da gente, depois abríamos a janela e sol saía brincando pela rua, pelo mundo a fora chamando os vizinhos pra se alegrar de luz e quenturas...
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o silêncio entre as batidas do cuco na parede, o silêncio dormindo no verde da casa velha, os desenhos engendrados pelas minhas matutações...o silêncio e eu, ah esse amor antigo!
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águas de março traziam fim de estação, faziam nascer coisas suaves, levavam tudo de volta para nascer outra vez, é quando tudo recomeça...
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a varanda silenciava
dentro das gotas de orvalho,
tudo me criava a mim...
dentro das gotas de orvalho,
tudo me criava a mim...
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a brisa
dançando dentro da goiabeira
e dentro da goiaba abrasa!
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na rede não penso
só me balanço no tempo
no espaço que me é dado
descanso no silêncio
(deixo-me à vaga da vida
(deixo-me à vaga da vida
ora brava ora branda)
***
redemoinho de vento
sobre teu corpo de rio
a sede desde chão
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solidão
na beira do rio
o barco emborcado
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caem as folhas
sobre minha face
o tempo é já
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o vento
deixa biruta
os coqueiros na praia
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nesta tarde de sol
a gata se deleita
na sombra de suas palavras
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luz acesa
a vela ardendo
na noite
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a noite cai
a gata cálida
passeia no telhado
***
dentro do chuvaréu
longa estrada
de arco-íris
***
no quarto
a lua cheia
é candeeiro
***
a lua crescendo
no vasculhante
me sorri
café na varanda -
ResponderExcluiragora sei o gosto
da névoa da aurora...
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na rede penso:
será a vida mais breve
que a brisa que passa ?
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o vento se foi -
o silêncio é cúmplice
das pétalas caídas...
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sobre o oceano
é a calmaria que resta
depois do ciclone...
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a chuva termina -
o colibrio na ameixeira
é o pano de fundo...
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levadas pelo vento
e espalhadas pelo vento -
todas as nuvens...
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existe silêncio
no interior do homem -
só ele pode ouvir...
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águas de março -
o velho sapo coaxa
o fim da estação...
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além da abelha
a lanterninha japonesa -
na minha varanda...
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o dia será longo
com todo este sol
na beira da praia...
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de repente o sol -
já nem me lembro do frio
que fez ontem...
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brisa da manhã -
curva-se até o chão
o bambu humilde...
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o rio é apenas
neste tempo de estio
um caminho de pedras...
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fruta no chão -
resta nela ainda
o sabor da estação...
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silêncio atrevido:
seu gosto eu sinto
ao lamber o vidro...
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no meio do rio
havia uma ilha -
após a chuva não havia...
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solidão que finda -
nem bem começa a noite
já desponta a lua...
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em meus sonhos
vai chovendo no telhado
e na bacia também...
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lua crescente -
eleva-se no banhado
o coaxar dos sapos...
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solidão gelada -
pelo telhado de casa
o gato caminha...
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está ouvindo
o vento que uiva lá fora ?
a solidão é gelada...
****
cheia de frutas
vai sendo devorada
a goiabeira...
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neste mundo
a vida aflita vai passando
e logo se cansa...
****
tarde ensolarada -
desse frio que se vai
só fica a lembrança...
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faltaram estrelas
para esse poema -
a noite se foi...
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cada vez mais lindo
o sorriso no céu -
lua crescente...
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ah ! que alegria !
nós dois lado a lado
tecendo lembranças...
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bando de pardais -
há sempre um que não
foge da chuva...
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fosse minha
essa lua crescente e eu
mandava embrulhar...
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do lado de cá
tá caindo de madura
a goiaba do vizinho...
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já caindo do galho
o menino vai puxando
a amora madura...
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jamais cantará
todo o seu repertório
o cardeal na gaiola...
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ah ! minha amiga !
como posso compreender
este crisântemo...
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tempo de quentão -
arde a fogueira
e o meu coração...
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ao entardecer
a abelha e o pêssego -
colheita de paixão...
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a tarde se esvai
na folha da ameixeira
levada pela formiga...
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pé-de-vento -
a poeira anda nervosa
será o saci dentro ?
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no céu noturno
sobre o teu corpo
pareço uma brasa...
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vestido florido -
a moça é a estrela
dançando na noite...
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aguaceiro -
as telhas quebradas
se fazem notar...
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beijo grande
e boa noite disse ela -
sob o frio vendaval...
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despedida:
entre nós agora
só a solidão...
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de mansinho vai
caindo sobre nós a chuva
e vira tormenta...
quando acordei
ResponderExcluirtinha um sorriso
de orelha a orelha
imaginei fizesse
uma linha imaginária
por ele traçada...
tentei rir
mas só o sorriso
ria na minha cara :)
fiquei há espera
de ver mudar
a emoção
estava no entanto
com aquele sorriso
esticando a boca
tentei cantar e
a ideia me fez todo
sorrir ainda mais
"que bom" pensei,
vou ficar a sorrir
para sempre...
até aqui, tudo bem!
Bjs
F