a mãe dizia:
essa menina fica se fiando
com as palavras
o tempo todo
a noite descia e subia pelas escadas de meu silêncio, chegava à casa velha e, de repente amanhecia, as noites eram longas e se alongam ainda como alguém que medita, a memória na parede vai ficando cinza cada vez mais clara cobrindo o verde da tinta antiga que não saía nem raspando com a unha... era raiz de coisa viva eu vi. tinha algo de lisboa na casa velha, o retratinho de azulejo cravejado no alto bem na frente da casa da frente e tinha também a casa dos fundos era Senhora de alguma coisa. A goiabeira e o pé de graviola, o terreno cheirando a frutas que guardavam sementes de sol e chuva, era macio o terreno com lagartas que se viravam do avesso quando o fim de tarde se deitava no terreiro, e as galinhas ciscavam milho desse tamanhão que o pai trazia, era um terreno muito estrelado de cores e quase nada.
***
a palavra vai dando uma coisa como que dentro dum barco em alto mar, tudo embrulhado, dentro de mim o mar inteiro marolando, ô deus. tudo girando, juro! Aqui dentro um jiral no vento e todas as roupas-palavras se embolando, o mar no vento, a onda que não cessa, onda que nem deságua na praia e nem seca... as palavras em vários jatos vem à superfície e vão no vento ou no tempo ficam?. As manhãs são acordadas de silêncio e um corpo de música que arde nos penetrantes raios de sol da alvorada em revoada que logo, logo se agita... chega a tarde e o corpo de música se perde no corpo da dança do tempo, nesta tarde vou me embalar nos sonhos do que tudo alvorece com ares de ocaso. Espero sempre o sono, o sonho de outro alvorecer, a música ainda toca no silêncio e a dança continua me ninando acordada. O tempo vai se esfarrapando e a gente se tece e destece no desfiar das tardes, na brisa fiandeira do ocaso.
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fio a fio
ResponderExcluireste tear entardece
as minhas unhas
na fria manhã
a brisa se espuma
em meus (a)braços
o desafio:
em cada palavra
suspenso o vôo
penso logo escrevo:
o que há dentro do olho
se o ocaso se esvai !?
indo entre nuvens
vai a garça branca
enfileirando luas
as rugas da lua
são caminhos tecidos
pela tranquilidade
a idade do tempo
é o pó que nos cobre -
feito um diamante
o dia em silêncio
arde onde ando
só a contra ventos
a cor dar
à brisa da manhã
com teus olhos
e meus dedos
tateiam o céu
das tuas palavras
acho-me só
e aguardo o alvoroço
da goiabeira
na tarde-noite
o açoite do vento
me embala
e eu te abraço