quarta-feira, 17 de junho de 2020

Quando olho pela fenda da fechadura vejo o mar , pássaros nos galhos em pontos de voo, vejo montanhas já pela metade e um rosa fulvo no céu azul branco alaranjado. Olho pela fechadura e vejo crianças correndo pelos vales, um gato feito esfinge na grama. Uma pedra enorme e uma mulher tomando sol ouvindo as ondas suaves lambendo a rocha. Ela suspira, sorri abrasada e vira a cabeça pra trás num gesto de entrega e confiança.  Olho pela fechadura e o mar não acaba. O vento balança o cabelo da mulher e ela se mexe como uma nereida ou sereia sei lá que canta. Sim ela canta em silêncio o que me parece bem curioso. Olho pelo buraco da fechadura e o dia é deslumbrante em seus tons pasteis. Algum brilho se estende na colina e sobre a superfície das águas.  Sinto o suor escorrer pelo meu rosto e me salga esta paisagem viva. O pássaro voa alto e desce em círculos numa dança infinita. É tão mais amplo o biraco da fechadura que parece possuir uma lupa quando aproximo o olhar e lá está a formiga no seu montinho de areia , ah sim uma fileira delas com pedacinhos de folhas verdes sobre si.  São fortes. Simples e ágeis. Silenciosas... oitros pássaros sobrevoam o mar e juntam se ao primeiro e formam uma grande quilha em direção ao norte. A lua plena no céu não compete com nem uma luz. Apenas reflete cada vez mais o quanto de sol ainda há de brilhar.
Pelo buraco da fechadura eu vejo tudo. E é assim que é.

Rio, junho de 2020.
Alessandra Espínola

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