terça-feira, 6 de novembro de 2018

                             Rio, outubro de 2018.

Estou em estado de fúria porque amo intensamente.
No peito, um outubro de tigres. Na anca maritima e no costado de escamas fibrila a medusa de esporas.  Batalha de agonias como um verão prestes a invadir o perfume de pétalas e fósforos. Uma seda sangrenta nos dentes esse coração florido de selvageria espessa. Ensopando o corpo de bocas, coxas, peitos, sêmen,  e um colar de lágrimas e seivas gritando gemidos no trevo da garganta. Cravo o desafio das digitais no sabugo das unhas e entranhas, a sangue frio como um carpinteiro de salivas líricas. Camadas de arrepios, declarações de amor e ódio, profecias, tudo na rude confusão suada da carne, do vapor nas narinas e da urina mapeando a tortura dos passos. Os dias palpitam no umbigo de sol e no ventre de trigo. Iodo perfurando os olhos. Cavo a cintura de sátira. E a virilha de safira e ânfora.  Língua cravejada de lobos e labirintos de faunos sustentam o exílio de ocos . Sangue de veludo se agasalha na morte de carnes e beijos até à fadiga desse abismo de medula trêmula sobre a fúria do sino em chama. Tempo de punhais, bandeiras de âmbar, e o negro vermelho nos portais. Ancestrais  e antepassados contemplam os contemporâneos na antecâmara do naufrágio e a cinza névoa atraca os pórticos das fronteiras insubmissas. A vulva palpitante de treva e ferida de fúria se dissolve funesta na terra cega e nas escadarias do túmulo de sal, raízes transcorrem como um caralho sob a côncava sombra dos pés escarlates de mármore. Eis o cárcere do silêncio.  Contemplamos o inferno!

Alessandra Espinola

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