terça-feira, 6 de novembro de 2018


Rio, outubro de 2018.

Penso Sensibilidades e desabafos :

Há um rio cujas águas mudam o movimento  e direção. Não se pode ouvir as águas ao fundo que corre na direção  contrária ao que parece na superfície . Peixes anunciam aos barcos atracados que é possível chegar a outra margem.  Numa diagonal cujo trajeto  se dá mais esforçoso e alongado entre lua e sol. Nem lua nem sol. Depois das chuvas. No cair agonico da noite. No parir atômico do desaparecimento. A terra amalgama - a memória de - seus ossos, reúne paliçadas e, marcha em voraz silêncio. Uma mulher vocifera luciferana e sangra quarentena limpando vestígios de dor, perdas, prisões, abusos, algemas,  morte do ver sob amonias, quarto -frio-forte, choques, balas de borrachas, ...pimentas, . Cruz e flor nas encruzilhadas dos séculos mapeiam a trajetória fúnebre e apontam para o mar. Não ha mais acampamento para o passado. A transgressão é  que abre o mar. Mais que resistir. Avançar. Com dentes-de-sabre. Em cânticos de amor, angola e Bach.
Então...
Baleias sobem à superfície.
Sépias arrastam navios e aviões ao fundo mar.
Éguas noturnas sobem dos oceanos. Revisitam litorais, estradas, cancelas, faróis.
Cavalos, cães, morcegos lancetados nos ares. A boca da escuridão. Emboscada de serpente. Covas de crianças mortas vivas. Se levantam em chamas gritando suas mães.
Foice nos dentes. Na língua, o poema em riste.
O fantasma se fantasia de terra e céu. Esquecido que mar tranquilo também  é perigoso. E com as visceras em putrefação. A múmia esboça movimento. Mas o que se levanta é o gigante pela própria natureza.

Alessandra Espinola

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