sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Intertextos

I - 
"o granito
ouro-âmbar
sobre a bruteza
da cidade selvagem
de pedra abrupta
ensimesmando"

(...)
"imprimindo
no relevo da cidade
as antenas invasoras
os cantares capitais
que o poeta lambia
cariciosamente ( com seus olhos-câmeras )
os detritos mais suaves"


luiz gustavo pires 
http://escarceunario.blogspot.com/2011/10/olho-de-tigre.html

olhos de âmbar teu ar de tigre sobre as palavras como gérberas pálpebras estrelas do mar num céu de cócoras e árvores sobre nós assoalhos como o tempo se esgueirando nos nossos umbrais e portais suspensas sobre teus ombros a pétala de uma petúnia e asasolde uma ave dançarina flutua flor farfalha como um luar claro de penumbras suaves e sombras de folhas dálias

***

tempestades ensolaradas invadindo cortiços neblinosos agitados de tramas rangendo caules e redes penduradas nos dentes abertos do vento que assobia e sobe pelos telhados acariciando casas roucas destilando a fundura de nossas alfândegas palavras

***

urbanos medos e centelhas ocidentais ossos levantando prédios e vozes pétreas piches asfaltadas e espremidas no torno do espaço e fundidas no tempo dos sapatos grisálhidos dormidos no cais

***

olhar de âmbar sobre a escuridão da face sulcando ampulheta de cobre envelhecido sepultando fantasmas fisgados a dedo no fundo dos becos e pelos olhos de âmbareal deslumificando o silêncio dos passos das pausas e de todos os gestos não cometidos e contidos na memória

teu olho de tigre me lâmbarina 


II -
[ o polvo recolhe seus tentáculos ]
"estranho como ejaculo
no abismo istmo - de mim mesmo -
o que me devora
pelos ouvidos"

luiz gustavo pires
http://escarceunario.blogspot.com/2011/10/cortico-de-argila.html


ejacula-me abismo revolvido
o cortiço do barro úmido
vai sumindo pela mão
do poeta...desbasta vasta palavra
e a carne da palavra
o corpo a textura do texto
profuso de tentáculos
a estátua da mulher de pedra
se forma na olaria de um rio
a palavra em têmpo_ras
atravessando a penumbra
rubra-densa do cortiço
com aromas e temperos de oxalás
benzo-te poeta!


***


das palavras do cortiço e do silêncio da argila:

meus tentáculos são feitos de braços cabelos ao vento ou entre os dedos do poeta
meus dedos unhas cravam danças de fomes e o corpo encarnam na terra desfazendo-se no areal da praia na onda que não cessa o arpão varando água
a mente flutua a palavra não me sai da idéia cabeça-mente e o corpo se abrindo canção carne cor cheiro tremências... a cabeça se desvirando vergando e a boca ri alto e chora pendendo a lágrima num canto da boca e do vértice do chão xadrez.
no fundo nada me é miragem eu sou um fundo e o raso do fato cru a realidade me passa na cara o tempo me passa na cara.
eu juro que queria fazer poesia com os lábios e ouvir a música de tua voz com todas minhas ventanas e tocar violino com todos os tentáculos de meu corpo, de teu corpo modelando (o silêncio) no barro. será um bom jeito de fazer poesia. na forma da argila e das palavras todas as minhas contrações.

2 comentários:

  1. ao entardecer
    quem consegue se mover
    na beira do lago ?

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  2. Entre medo - cortiços neblinosos - escuridão da face... e as estrelas do mar - pétalas de petúnia - temperos de oxalás... Sua poesia vai pro céu, cai no inferno, volta pro céu e volta pro inferno sucessivamente. E afinal, é o que somos: santos e demônios, feito sua poesia.

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