quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Habito

Habito a casa de véus meu hálito secreto dança na ponta da asa como cores fulvas opalas violetas róseas azuláceas encarnam a profunda fome dos pêssegos sobre a mesa e a parreira à borda do quintal com seus cachos de ventos entre folhas de olhos abertos e esses dedos em prece veneráveis tocando a seiva bruta do sagrado selvagem e subterrâneo das raízes do tempo. 

Habito esses terrenos vadios com esse corpo de dar em doido de dar em nada de se lançar ao fatídico vácuo de ser volúvel e incerto dou nas estalagens dos ocasos e nas tardes dos homens a postos nas portas dos botequins e das vendas onde nada se vende habito a luz cíclica da lua e das marés impermanente que rendem um dia inteiro como a renda desfiada nas pernas da mulher do interior sentada no batente da casa desabitada. 

Habito no vão espaço entre mim e ti no silêncio que percorre a espinha e as unhas agarradas em seus sabugos. Habito nos últimos escuros da vidraça. Habito na árvore cortada cujo tronco não se rende, estronca em meio ao inverno rigído árido pálido e na primavera inteira de uma vida eu habito.

2 comentários:

  1. Um ser que habita, dentre os seres que te habitam. É da enciclopédia do espírito e do vácuo do mundo onde seus versos de 98 graus celsius são cuspidos pela terra.

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