segunda-feira, 16 de junho de 2025

caminhos

 

travessia e conexão

a lua no alto da montanha 

estende sua luz no corpo das águas 

corredeira lenta e lodosa do passado, re_criando leito e caminhos.

o olhar agudo do tempo se lança como um mergulho de peixe que volta ao seu cardume, 

um barco em direção ao futuro na imensidão, livres, todos livres

e a mão materna que move o barro e o barco descansa a pressa e peso do costado marítimo, 

o arco lúmen alumia 

a dor  da exclusão da origem 

rastreio e investigação, minuciosa arte de esgrima meter a mão na cova, pinçar entre os dedos o visgo da cauda curativa do escorpião, nas profundezas.

olhar direto, claro, fluir, diluir, ser em vir

da ferida do clã do sol 

terras fronteiriças, transcendê-las

expor todos os mortos em honras e reconhecimentos -amorosos

ali no topo onde se revela o mapa na palma da mão com as cartas de terrras natais,

à tona na pele a flor e o espinho espessos, entre_linhas e silênciosas expedições

lunações e marés , sol a pino no mastro do marujo além de si, mar pra cá

Afogando inflamando o não dito dos sobrenomes sobrepostos em palimpsestos

sobre meu dorso o touro o pinguim e o leão, escorpião na brecha, 

funda fenda do convés,  convém a bússula ao norte, 

o pássaro sem nome,  desenha em seu voo códigos de fogo e bandeiras 

 pendulando nos índices do Tempo 

o sussurro endurecido do grito, o rompimento do rito, a quebra do vínculo

a embriguez, a névoa, o fardo, o canto, a faca nas mãos, o calo e a causa 

o grito abafado nas intercostais 

o soco meticuloso, encenado

a infância entre a enxada e o mar, a grama, o musgo molhado da chama, a lama

pássaros de água e terra

Engenham futuro e sendas de fundas águas ao sol. 

 

Rio de Janeiro, outono frio de 2025. 

segunda-feira, 2 de junho de 2025

o barco a ancora a onda e o peixe

marejanddo como num filme em camera lenta. 

- cenas de uma colagem no papel jornal -

... 

veleja nas ondinas do ar

asas ao sol espargindo sal e espuma, nas garras o peixe se debatendo

no bico o verde da alga 

o sonho de pouso: ninho, casa, terra firme, terra chã

para voos 

 ...

pausa para respiros e silêncios 

na realidade do chão movediço, 

irregular, diverso, incerto:

resquícios de exílio e deserção 

...

no vale, o peso demográfrico

- esta densa névoa 

engolindo a estrada 

a montanha

a lagoa

 

Rio de Janeiro, junho de 2025 

 

 

 

 

sábado, 17 de maio de 2025

reinvento a casa

meu jeito único de viver 

de morar, de habitar, de conviver

reivento família (eu e eu mesma, que seja e que é dentro) dentro de uma casa, 

casa de fogo, água, e vento

terra moldada de sangue argiloso primitivo

o silêncio profundo de um ouvido posto na palma da mão

como um feto colhido em cocnha-coração

corais submetidos ao tempo , alma templo, 

espirito das águas movendo Sépia em vôo dentro da cabeça

peixes respiram á beira do substrato

crescer em digitais no campo na praia 

no tempo em que o mar corria sobre a areia

veias tecidas no coração do Sol, o norte sendo traçado, Lua sobre Montanha, 

e São Jorge guardando o útero,

as mulheres da casa rompem como que a bolsa estourando e desaguando no mundo seus caminhos

num cordel lírico e negro, um  mosaico-caleidoscópico , num calendário floral de hécate, 

o candelabro aceso na diagonal da casa, a luz sibila: ser que dança

e o som atravessando a sombra

num cortante lábio de Lilith

 

Alessandra Espínola 

Rio de Janeiro, maio de 2025

 dissolver o barro no poder da água

amassar como quem aperta o peito da mãe (terra)

e absorve a láctea textura nas mãos

penetrar em mergulho 

o absoluto a fonte a foz

decantar memórias ...

no tempo, no silêncio do retiro

na retidão de si que é o ser único - em qualquer forma o uno,

desbastar e bastar-se num contínuo imiscuir-se no todo 

há nisto o reencontrar-se

o remodelar-se, o ad infinitum, vir a ser.

onde há barro, há a rara rebeldia em concerto pra ré maior

onde há corpo, há a rebeldia infinita de ser

e de ser livre em si, sem margens, sem beiras, sem contornos, sem tempos

eis a sombra, o áspero, o bruto, o grosso caloso das mãos por andar com as palmas tocando a própria experiência de Ser (tateando o original) e se esculpindo de saber com as exprimntações e através delas, sem vítimas (ainda que tenhamos sidos todos),  apreender o caos o desforme e diluída argila da sombra. 

nisso, sou aparição e repatriação no mundo e eu amo 

 

Alessandra Espínola

Rio de Janeiro, maio de 2025.

 

 

quinta-feira, 15 de maio de 2025

 nakba 

em tempos de guerra silenciosa, duas bombas no corpo, 

dois casulos de míssil, aflito, paiol de pólvora construído

entre tricnheiras, quasar, corpo cazimi

solo fértil, campo minado, 

esculturas da existências , rochosas carnes, mucosas ásperas

centríguas de átomos, ondas de cadáveres, 

hiatos perdidos no vazio

túmulos-casas, cadafalsos e calabouços 

argamassa e memória

terreno se abrindo feito  sementes crescidas

como peito oferecidos aos antigos nascidos

sem lar

 

Alessandra Espínola

Rio de Janeiro, maio de 2025.

 

quinta-feira, 1 de maio de 2025

outono:

 nunca é tarde para ficar ou partir

deixar ali a folha seca na calçada 

se esmiuçar nas andaças do tempo 

***

feriado frio:

a casa é o lugar tecido

com a sutil agulha e linha do tempo

colcha de retalho

***

latido do cão

orquestra sinfônica de outono

com alarido do vento 

***

Flores nos dedos

o aroma das pétalas 

aquarelam poemas e canção


Alessandra Espinola 

Rio, maio de 2025.

 


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