foi no terreno da casa velha onde os irmãos mortos foram enterrados. esquecidos . eu os sepulto e arranjo cuidadosamente a coroa de palavras, como uma condecoração e honra. admiração pela generosidade de terem morrido antes de mim, o grande ato heróico de terem lutado por mim, abrindo caminhos e portas em amor , este infinito ato de colaboração que é a vida, que é a vinda em cada ventre ao contrário do que diz o mundo e as balelas do egoísmo e da maldade que nascer é competição, não é!
vir a ser, adentrar o ventre da terra e de uma mulher é conjunção, união , doação e colaboração. cada espermatozóide que vai correndo viajando em direção ao óvulo é uma ato de irmandade e amor ao próximo sobretudo ao que vem depois para que possa ter acesso a vida, à casa óvulo, à casa-ventre, ao verbo de ser, ao processo doloroso sim de viver, então só aí então é que os últimos conseguem entrar e se misturar ao óvulo e passar por toda aquela cofusão de vida mais ou menos durante três dias ali decidindo se vai continuar. graças também a uma inteligência amorosa e colaborativa da Vida e de cada esperamtozódie que nos permitiu vir aqui. aos nossos irmãos todos que vieram antes e se aventuraram no caminho abrindo e aumentando nossas chances de conseguir o lugar na vida que eles preparam e aos que virão esta carta, esta poesia, este amor que levo adiante, ao valor da colaboração que pode se manifestar em generosidade e com todos os valores éticos, humanos, materiais e divinos. aos nossos irmãos, esta coroa de flores e palavras-flores sobre o tempo. foi uma multidão antes de mim, abrindo os caminhos de vida.
ir buscar os achados esquecidos no fundos do grande tempo e guardados nas profundezas das densas águas dos oceanos surgidos à luz do sol .
memórias, construtos, histórias que trazem à tona todas as vidas refletidas por eras através da lua que incansável trabalha no sigilo e no silêncio e na escuta que abarca.
Rio de Janeiro - Vila Cruzeiro, primavera de 2024.