quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

 a torre

traz uma ideia de experiência esmagadora do despedaçamento das estruturas - geralmente internas e que levam às externas. Necessário ter flexibilidade, jogo de cintura, e aceitar as mudanças que a vida traz.

Rio, ar dezembrino de 2024.

Alessandra Espínola



quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Cruzeiro em tormenta

Chama das velas 

tremeluziam na escuridão

***

a boca aberta

pronta a comer moscas

a morte tem suas fomes

***

fogo cruzado

a mulher vira chão

e volta as suas raízes 

***

amendoeira em ardor

chamas peneumáticas no beco

amendoas estalam ao chão

***

chuva pela manhã

molha o manda-brasa

esfriando a ignição


Alessandra Espínola

Rio de Janeiro, Vila Cruzeiro, verão de 2024.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

A massa sombria. O buraco negro que é uma outra imensidão.  A Massa escura. 
Que é um ser de contingências individuais e sociais na qual também  estou metida, mergulhada de cabeça na supermassa, somos todos partes e estamos todos metidos ate o pescoço, feitos da maior parte. Que se move , que nos move contingentes. Abarrotados. Cataclismáticos. Imersos.  Sonâmbulos.  Espessos. Densos. Subterrâneos.  Interiços. Amalgamados. Num grande Complexo humano, social, coletivo indivisível.  Uno.
Na grande cidade que não é partida e não há (nada) partido, este organismo vivo se move ora silencioso ora barulhento. Ora sorrateiro, ora já extravagante à superfucie de tão transbordante.  O ser que se soma a cada um num grande complexo que ora expurga ora vira saudade ora morre ora mata. Ora renasce como alien que se alimenta de si que se repete e se retroalimenta. Ora parasita ora palafita. Ora corpo presente ora corpo saudade. 

Rio de Janeiro, Vila Cruzeiro, primavera de 2024. 

sábado, 9 de novembro de 2024

 I

Há dias em que não encontro uma poesia num livro

É a procura do que não encontrei ainda.

Bobagem!

Encontrar é entregar. É perder fazendo a coisa achar. Um achado isso.

Fluir. Como os seixos, pedras, folhas, galhos, flores, peixes no curso do rio...

Eu mesma em mergulho tocar o leitoso fundo. Enxergar na luz turva das águas até o momento cristalino do rio e de novo outro mergulho, mais fundo, e desembocar nas espumas do encontro das águas do rio uando abraça o mar...

Agora, não vejo tudo, o todo

É aos poucos, em partes, vou vontemplando os horizontes que se dão e que se entregam e me tomam pelo encontro de mim comigo mesma.

"você deságua em mim, e eu oceano"

Alessandra Espínola

Rio de Janeiro, Maracanã, 06 de novembro de 2024.

 

domingo, 3 de novembro de 2024

 1-

novembro salta e respira

como um rato salta

para fora da roda de corrida

2-

os ovos de pássaros

na superfície de pedras submersas 

do grande rio da Vida...

 

Alessandra Espínola

Rio de Janeiro, (Vila Cruzeiro), primavera de 2024.


segunda-feira, 28 de outubro de 2024

 !-

manhã de primavera

depois das chuvas

mangas caem no telhado

2-

setembro se foi

agora é rubro ardor

de outubro

3-

poros das pedras

histórias são cantadas

pela fonte das águas

 

Alessandra Espínola

Rio de Janeiro, (Vila Cruzeiro), outurbo de 2024.

1-

canções de primavera

pássaros cantam no regato

alegram-se as árvores

2-

horizonte à frente

Sol, rio, céu

pedras rolando no tempo

3-

 canção de primavera:

andorinhas brincam no ar

duas asas num redemoinho


Alessandra Espínola

Rio de Janeiro, (Vila Cruzeiro), outubro de 2024.


 

sábado, 19 de outubro de 2024

 1- 

dia nublado

se abre no mormaço

do passado

2-

tatear no escuro

e sem forçar a vista 

tudo se modela

3-

olhar e ver

um exercício de volver

como um tubarão em torno da ilha

4-

adentrar a sombra

como fosse mar

em mergulho e trazer a tona os despojos

 

Alessandra Espínola

Rio de Janeiro, Vila Cruzeiro, primavera de 2024.


sábado, 12 de outubro de 2024

 foi no terreno da casa velha onde os irmãos mortos foram enterrados. esquecidos . eu os sepulto e arranjo cuidadosamente a coroa de palavras, como uma condecoração e honra. admiração pela generosidade de terem morrido antes de mim, o grande ato heróico de terem lutado por mim, abrindo caminhos e portas em amor , este infinito ato de colaboração que é a vida, que é a vinda em cada ventre ao contrário do que diz o mundo e as balelas do egoísmo e da maldade que nascer é competição, não é!

 vir a ser, adentrar o ventre da terra e de uma mulher é conjunção, união , doação e colaboração. cada espermatozóide que vai correndo viajando em direção ao óvulo é uma ato de irmandade e amor ao próximo sobretudo ao que vem depois para que possa ter acesso a vida, à casa óvulo, à casa-ventre, ao verbo de ser,  ao processo doloroso sim de viver, então só aí então é que os últimos conseguem entrar e se misturar ao óvulo e passar por toda aquela cofusão de vida mais ou menos durante três dias ali decidindo se vai continuar. graças também a uma inteligência amorosa e colaborativa da Vida e de cada esperamtozódie que nos permitiu vir aqui. aos nossos irmãos todos que vieram antes e se aventuraram no caminho abrindo e aumentando nossas chances de conseguir o lugar na vida que eles preparam e aos que virão esta carta, esta poesia, este amor que levo adiante, ao valor da colaboração que pode se manifestar em generosidade e com todos os valores éticos, humanos, materiais e divinos. aos nossos irmãos, esta coroa de flores e palavras-flores sobre o tempo. foi uma multidão antes de mim, abrindo os caminhos de vida.

ir buscar os achados esquecidos no fundos do grande tempo e guardados nas profundezas das densas águas dos oceanos surgidos à luz do sol .

memórias, construtos, histórias que trazem à tona todas as vidas refletidas por eras através da lua que incansável trabalha no sigilo e no silêncio e na escuta que abarca. 


Rio de Janeiro - Vila Cruzeiro, primavera de 2024.

sábado, 17 de agosto de 2024

 "eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho...mas eu vim de cá pequeninho , alguém me avisou pra pisar neste chão devagarinho"

pisar no chão da infância é sangrar; 

quisera meter minha mão dentro de tua omoplata, colher sem dor este cravo as avessas. arrancar do teu peito esta faca cravada que de vez em quando espeta, torce, afunda, macera. 

Alessandra Espínola

Rio, 2024

Diário com poesia e contemplação:

 

há uma floração de lixo nas ruas

há uma decantação de corpos nos becos

as esquinas salpicadas de cacos, ecos, estopos de sons, sangrias e sacolejos escrotos entre pernas

o som de garrafas alcoólicas rolando no asfalto ensebado já

a noite não dorme, a lua se inquieta alta, soberana no escuro, cheia, ilumina o fundo coletivo

serpente bilingue, escultura de prata, tradutora poliglota, lustre exigente, clarea difusamente, a outra face oculta

que não fosse o silêncio, a palavra , o gesto artístico das mãos e o ver, seria de impossível decifração.


Alessandra Espínola

Rio, inverno forte, 2024.

segunda-feira, 4 de março de 2024

...dá-me o teu tempo comigo, comunga de teu fluxo, de tuas dores, traumas, belezas, virtudes, caminhemos o caminho, o passo sem pressa, sem nem adiantar nem atrasar, em tempo: estamos no tempo certo.

Alessandra Espínola

Rio de Janeiro, março de 2024.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

 Dos Pequenos Poemas antigos

lâminas

explodem na mente

são poemas plutões

**

 há dias em que só

se quer uma mão

tocando na outra

**

é com estranheza 

que habito o mundo

**

a ponte pulou de mim

**

a língua  é uma ilha em chamas

**

ando muito no avesso

escrevo e ponho no verso

**

além de carnívora 

também não sou flor 

que se cheire

**

vida é escambo e o escambau

**

o corpo é fazedor, a mente é sabedora do fazer

**

é noite - volto para casa

com a colheita -

a lâmbida de um cão

**

Rio Nunes 

 atravessa a praça

e brinca (com a solidão) das crianças

**

gaivotas, barcos

pontes, nuvens

aquarelam a Guanabara

**

domingo de sol

quarando a saudade

no quintal

**

outono

domingo de chuva

janela baça

**

chuva fria 

dorme na cama

gata de rua

**

tarde de chuva

outono cinza 

silêncio no céu

**

chove... no telhado

balde d'água 

no meio da sala

**

no caminho 

esses crisântêmos

lembro-me de ti

**

jardineiro e o menino

na manhã ensolarada

cultivam alegrias 

**

menino ao leo subia 

na banca de jornal 

anunciava as palavras ao vento

**

vento de outono 

traz o pombo à janela

cisco no olho

**

já desbotam as folhas

da antiga amendoeira  

e caem sobre a mulher -sozinha

**

palavras pó 

punhado de cinzas

que o vento leva 

(somos todos isso)

**

o tempo:

voa veloz a noite

em nós.

**

praia deserta

só o pôr do sol

é certo.

**

noites em claro

nunca foram

tão escuras

**

o mundo desaba

e nada muda

na face de buda

(mas o caebelo tá em pé - contém ironia/ humor!)

**

na janela

floração de buquê

rosa amarela 

**

lua cheia

vestida de nuvens

me roseia

**

barquinhos de papel

nuvens navegam

na superficie do céu

**

gotas de luz:

desfilam  garças

ao pôr do sol na praça

 

Alessandra Espínola

sábado, 17 de fevereiro de 2024


caiu a chuva

sobre ipê roxo na calçada

lágrima em correnteza

***

ipê roxo

a lembrança do cuidado da mãe

 aflora (em seu mundo a fora)

***

florido ipê roxo

diante da casa 

tombado pelo tempo

***

ipê roxo

em frente à casa do menino 

beleza e mistério

***

casa encantada

floração ipê roxo

tudo se renova

(e se transforma) num tapete roxo voa_dor.


Rio, verão de 2024.

Alessandra Espínola


 poemas curtos:


a mãe e o menino 

diante do ipê roxo

são frutos da casa

***

ipê roxo 

na frente da casa

tomba no tempo

***

tapete rosado do ipê-roxo

estendido diante da casa

mãe e filho atravessam o tempo.

 

Rio, verão de 2024.

Alessandra Espínola

 

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

 Diário:

com as chuvas as emoções fluem como rosas lótus na superfície de todas as torrentes, como dois pássaros no céu azul e branco, livres e leves. acimas das nuvens densas, que existem. o sol no coração da gente, a brisa tocando a face, o olhar afetuoso leve que afaga e conforta e refresca. 

Alessandra Espínola

Rio, janeiro de 2024.


segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

 Diário: 

tenho agústias 

como as mangas por explodir

elas racham no fulgor da luz e na queda ao chão

o estouro se ouve até às raízes..

era menina e já as sentia mesmo dentro da cas(c)a.

Alessandra Espínola

Rio, janeiro de 2024.


sábado, 6 de janeiro de 2024

 diário:

...no quartinho, a noite corre como uma fonte d'água, corrente, suave, sinuosa. o barulho das mãos d'agua nas pedras são como quem acaricia um torso teso, rígido antigo. o chão silencioso me abraça. a casa-pele brota uma flor na borda do rio. 

Alessnadra Espinola

Rio, janeiro de 2024.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

 Diário:

último por do sol , a secura das árvores e o desprendimento de todas as raízes. o vastso fio de sol

atrás das nuvens, por entre casas, no ato íntimo do tempo, as estradas em oferta, no último álamo do olhar.

paz, eu indo embora. ida. passada, jaz, e já depois de dissolvido tempo em pó e cinza já nem serei memória.

Rio, janeiro de 2024.

Alessandra Espínola

 a torre traz uma ideia de experiência esmagadora do despedaçamento das estruturas - geralmente internas e que levam às externas. Necessário...