sábado, 17 de agosto de 2024

 "eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho...mas eu vim de cá pequeninho , alguém me avisou pra pisar neste chão devagarinho"

pisar no chão da infância é sangrar; 

quisera meter minha mão dentro de tua omoplata, colher sem dor este cravo as avessas. arrancar do teu peito esta faca cravada que de vez em quando espeta, torce, afunda, macera. 

Alessandra Espínola

Rio, 2024

Diário com poesia e contemplação:

 

há uma floração de lixo nas ruas

há uma decantação de corpos nos becos

as esquinas salpicadas de cacos, ecos, estopos de sons, sangrias e sacolejos escrotos entre pernas

o som de garrafas alcoólicas rolando no asfalto ensebado já

a noite não dorme, a lua se inquieta alta, soberana no escuro, cheia, ilumina o fundo coletivo

serpente bilingue, escultura de prata, tradutora poliglota, lustre exigente, clarea difusamente, a outra face oculta

que não fosse o silêncio, a palavra , o gesto artístico das mãos e o ver, seria de impossível decifração.


Alessandra Espínola

Rio, inverno forte, 2024.

 "eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho...mas eu vim de cá pequeninho , alguém me avisou pra pisar neste chão devagarinho" pisar...