quinta-feira, 1 de maio de 2025

outono:

 nunca é tarde para ficar ou partir

deixar ali a folha seca na calçada 

se esmiuçar nas andaças do tempo 

***

feriado frio:

a casa é o lugar tecido

com a sutil agulha e linha do tempo

colcha de retalho

***

latido do cão

orquestra sinfonia de outono

com alarido do vento 

***

Flores nos dedos

o aroma das pétalas 

aquarelam poemas e canção


Alessandra Espinola 

Rio, maio de 2025.

 


quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

 a torre

traz uma ideia de experiência esmagadora do despedaçamento das estruturas - geralmente internas e que levam às externas. Necessário ter flexibilidade, jogo de cintura, e aceitar as mudanças que a vida traz.

Rio, ar dezembrino de 2024.

Alessandra Espínola



quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Cruzeiro em tormenta

Chama das velas 

tremeluziam na escuridão

***

a boca aberta

pronta a comer moscas

a morte tem suas fomes

***

fogo cruzado

a mulher vira chão

e volta as suas raízes 

***

amendoeira em ardor

chamas peneumáticas no beco

amendoas estalam ao chão

***

chuva pela manhã

molha o manda-brasa

esfriando a ignição


Alessandra Espínola

Rio de Janeiro, Vila Cruzeiro, verão de 2024.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

A massa sombria. O buraco negro que é uma outra imensidão.  A Massa escura. 
Que é um ser de contingências individuais e sociais na qual também  estou metida, mergulhada de cabeça na supermassa, somos todos partes e estamos todos metidos ate o pescoço, feitos da maior parte. Que se move , que nos move contingentes. Abarrotados. Cataclismáticos. Imersos.  Sonâmbulos.  Espessos. Densos. Subterrâneos.  Interiços. Amalgamados. Num grande Complexo humano, social, coletivo indivisível.  Uno.
Na grande cidade que não é partida e não há (nada) partido, este organismo vivo se move ora silencioso ora barulhento. Ora sorrateiro, ora já extravagante à superfucie de tão transbordante.  O ser que se soma a cada um num grande complexo que ora expurga ora vira saudade ora morre ora mata. Ora renasce como alien que se alimenta de si que se repete e se retroalimenta. Ora parasita ora palafita. Ora corpo presente ora corpo saudade. 

Rio de Janeiro, Vila Cruzeiro, primavera de 2024. 

sábado, 9 de novembro de 2024

 I

Há dias em que não encontro uma poesia num livro

É a procura do que não encontrei ainda.

Bobagem!

Encontrar é entregar. É perder fazendo a coisa achar. Um achado isso.

Fluir. Como os seixos, pedras, folhas, galhos, flores, peixes no curso do rio...

Eu mesma em mergulho tocar o leitoso fundo. Enxergar na luz turva das águas até o momento cristalino do rio e de novo outro mergulho, mais fundo, e desembocar nas espumas do encontro das águas do rio uando abraça o mar...

Agora, não vejo tudo, o todo

É aos poucos, em partes, vou vontemplando os horizontes que se dão e que se entregam e me tomam pelo encontro de mim comigo mesma.

"você deságua em mim, e eu oceano"

Alessandra Espínola

Rio de Janeiro, Maracanã, 06 de novembro de 2024.

 

domingo, 3 de novembro de 2024

 1-

novembro salta e respira

como um rato salta

para fora da roda de corrida

2-

os ovos de pássaros

na superfície de pedras submersas 

do grande rio da Vida...

 

Alessandra Espínola

Rio de Janeiro, (Vila Cruzeiro), primavera de 2024.


segunda-feira, 28 de outubro de 2024

 !-

manhã de primavera

depois das chuvas

mangas caem no telhado

2-

setembro se foi

agora é rubro ardor

de outubro

3-

poros das pedras

histórias são cantadas

pela fonte das águas

 

Alessandra Espínola

Rio de Janeiro, (Vila Cruzeiro), outurbo de 2024.

outono:  nunca é tarde para ficar ou partir deixar ali a folha seca na calçada  se esmiuçar nas andaças do tempo  *** feriado frio: a casa é...